quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Vida



No filme 28 dias, um terapeuta responde a pergunta de um cliente sobre como saber quando deveria voltar a se relacionar, sugerindo que compre uma planta e cuide dela por um ano. Caso a planta sobreviva, então compre um bicho de estimação e cuide por dois anos. Se este também sobreviver, saberá que está maduro para se relacionar.
Parece algo meio fora de propósito, mas me marcou profundamente porque faz perceber que se relacionar exige uma presença e comprometimento constante.
Quem já teve bicho de estimação certamente sofreu grandes dificuldades. Não só porque dá trabalho, mas porque bichos não negociam, não deixam para depois, não fingem e não mentem. Naturalmente nos cobram um posicionamento completamente diferente daqueles que estamos acostumados a ter.
Tenho me olhado muito. Já tive planta, já tive bicho. E muitos relacionamentos humanos.
E a cada relação percebo como ainda temos tanto a aprender. O equilíbrio entre dar e receber é algo essencial para manter viva a chama que une duas pessoas.
Mas, para que isso aconteça precisamos nos manter conectados com nossas expectativas, necessidades e carências. Dar é algo maravilhoso, transbordar nos faz parte de algo excepcional. E é a melhor parte da relação porque nos lembra quão únicos somos. E exatamente por isso precisamos manter nossas despensas abastecidas.
Se aceitamos a indiferença, descaso, esquecimento, permitimos que o estoque vá se desfazendo e não demora para nos perdermos numa mágoa corrosiva que vai afastando e destruindo o que quer que exista de especial.
Quando a rotina se instala e a conversa começa, o sinal de emergência dispara. Ambos mostram apenas que deixamos de nutrir, investir e alimentar a relação. E não haverá melhora enquanto gastamos tempo procurando entender como chegamos aqui. Isso é como deixar de regar uma planta por dias e ao vê-la contorcida e fraca, procurar entender como isso aconteceu, ao invés de simplesmente voltar a regar.
Cuidar do outro é mostrar que faz diferença. Cuidar de si próprio é fortalecer a possibilidade de uma vida mais rica com a presença do outro.
O equilíbrio é a razão que torna uma relação saudável e feliz.
E dá muito menos trabalho do que engolir a tristeza de não ser visto, amparado ou confortado.
Aceitar uma relação que lhe exige sobreviver no mínimo é cruel não só porque machuca, mas e principalmente, porque lhe priva da chance de florescer no seu esplendor.
Maturidade é escolha corajosa de se manter nutrido, e a responsabilidade de ser o melhor que se pode ser. Por si próprio e por todos os outros.
Só assim a vida se perpetua e o amor se mantém.

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