quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Sublime sofrimento


Conta-se a história de um homem que passou a vida procurando Deus e num certo dia encontrou o lugar.
Nesse momento, foi consumido por um medo intenso e decidiu permanecer à procura. Melhor saber onde está, mas não entrar, do que entrar e não saber o que mais fazer.
Parece que isso traduz um dos mais cruéis condicionamentos humanos. Permanecer na busca pelo medo de ser perder no encontro.
Freud dizia que o máximo possível para o ser humano é alcançar o estado normalmente infeliz.  Neuróticos convictos podem apenas, e com sorte, encontrar um lugar de encaixe nessa sociedade doente. Se permanecermos científicos, creio que ele tem razão.
Felizmente, todo individuo carrega um imenso mistério dentro de si. Algo que não se explica, mas que incentiva buscar algo maior do que a miséria habitual.
A tarefa que nos cabe é perceber que investimos ferozmente na infelicidade para que tenhamos algum senso de valor. Sofro porque sou bom, abnegado, espiritual. Sofro porque sou maior, mais forte, melhor do que os que me rodeiam. Sofro porque ser feliz me liberta e assusta.
Meio maluco mais facilmente reconhecível. Basta olhar as pessoas que se arrastam reclamando da família, do parceiro, do filho, do emprego, do vizinho, etc. Se a felicidade tocar a campainha, não obterá resposta. O emprego novo surge, a pessoa certa aparece, o filho sai de casa, e a pessoa justifica a manutenção da infelicidade de maneiras surpreendentemente criativas; o emprego pode não dar certo, a relação estragada que está vivendo representa esforço que não pode ser jogado fora, o espaço livre na casa gera uma corrosiva solidão. Como a vida pode ser tão cruel?
A vida jorra abundância e alegria ininterruptamente, e nós desviamos adormecidos nesse ciclo doentio que aprendemos ser a única forma de crescer. A dor gera ganho. Será?
Outro dia uma amiga me disse que o passado é como comida estragada. Não importa quão maravilhosa tenha sido, se estragou, tem que ir para o lixo.  O que é óbvio nesse sentido, por uma razão que não compreendo, não é nas outras áreas de nossa existência. Continuamos comendo estragado, tentando nos convencer que não temos outra opção.
A esperança é acender a luz interna que nos conecta com respeito e auto estima. É se obrigar, literalmente, a fazer escolhas comprometidas com a saúde e especialmente assumir a responsabilidade de sua própria alegria ou tristeza.
Questionar seriamente o que pensamos merecer e quais são as nossas reais motivações na permanência da dor.
Assim, caso nos falte coragem para viver bem, pelo menos teremos a serenidade de sermos medíocres por opção.


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