sexta-feira, 2 de setembro de 2011

De cara com o passado


Comecei a semana dando de cara com o passado. Imaginei que seria capaz de mergulhar nessas águas profundas e sair refrescada, quase como se faz em reencontro de turma de colégio. Não foi assim.
Algumas pessoas são como pedra base em nossas vidas. De algum modo se transformam em referência e idéia de porto seguro, facilitando sobreviver aos trechos complicados de nossa jornada. São entes queridos que não vemos com freqüência, embora confiemos que permanecem nos amando como fizeram enquanto parte ativa de nossas vidas.
Conheci uma pessoa há 25 anos atrás. Rebelde, forte, ousado e intenso. Alguém que me arrastou aos recantos mais dolorosos, perigosos e desagradáveis da minha capacidade emocional. E que me elevou aos picos mais intensamente prazerosos da minha existência.
Apesar dos desafios dessa montanha russa emocional, nunca me senti deixada para trás. Nunca duvidei que seria amparada no primeiro pedido de socorro. Confiei na eternidade. Confiei na capacidade humana de estar presente quando existe amor real. Confiei que tinha sido abençoada por um conto de fadas contemporâneo onde protagonistas vivem felizes em casas separadas. Confiei no sentido de cada evento, doído ou não.
Agora, preciso aprender a confiar no que restou. Preciso encontrar sentido em saber que não serei resgatada, amparada ou ouvida. Preciso sobreviver a certeza de que mesmo sendo o amor real e feroz o encontro não é mais possível. Como lidar com alguém que se perdeu de si próprio, se deixou abater e apagar e que acredita que é assim que deve ser? Como responder a um chamado com qualidade de despedida e desistência?  Como lidar com um pedido de socorro que vem de alguém que já não é mais?
Parece um pesadelo onde escuto vozes que reconheço e não consigo localizar de onde vem. Que solidão e angústia é tentar alcançar o que já está perdido.
Fui ao encontro de alguém que significou tudo e tive que lidar com uma casa vazia, abandonada e sem luz. Conformado, alquebrado, traído por si próprio. Uma devastação que me fez encolher e chorar. Chorar fundo por nós dois. Uma tristeza amarga na compreensão que poderia ter sido maravilhosamente diferente. Pequenas escolhas que separaram e aniquilaram o que poderia ter sido. Um homem bem sucedido que pagou o preço com a própria alma.
Sim o passado retorna... E cobra novas escolhas... Deixar ir para sobreviver. Reavaliar o presente. Questionar o que merece permanecer.
Acordar para o fato que uma decisão pode alterar tudo de maneira irreversível. Amar com todas as fibras do seu ser para sobreviver a impotência e o desamparo de não poder mudar o que é. Dizer adeus para não sucumbir junto. Respeitar sua própria humanidade limitada e com isso nutrir a fé em si, única aliada no final do dia.
Conforta saber que a eternidade desabrocha nas lembranças especiais guardadas com teimoso carinho ... 

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