domingo, 11 de maio de 2008

Cura II



Não faz muito tempo, um bom amigo, perguntou minha opinião sobre o que é cura e se é possível considerar a mesma como completa. Honestamente, fui fisgada e não pude resistir à tentação de pensar sobre o assunto.
No dicionário a definição para cura é: livrar de doença, restabelecer a saúde, debelar um sintoma, medicar, tratar e cuidar.
Fica óbvio que não se pode falar de cura sem tropeçar nos conceitos de saúde e doença.
Voltei ao dicionário. Eis o que achei: Doença significa alteração na saúde, no equilíbrio dos seres vivos e Saúde é o estado do indivíduo cujas funções orgânicas, físicas e mentais se acham em situação normal.
Onde fui me meter?
Parece-me que tais definições são tão amplas quanto o universo. Não há como delimitar eficientemente onde uma coisa começa e outra termina. Pode-se considerar uma pessoa sendo saudável ou estando saudável nesse momento?
Levando em consideração a idéia que o ser humano é vivo e por isso constantemente em movimento, como posso dizer que o que sou nesse minuto é o mesmo que será daqui há pouco?
Por exemplo, alguém que se descobre com hepatite. Qual é o momento do nascimento da doença? Dizer o momento preciso dos sintomas já parece difícil, então o que dizer do momento onde o primeiro desequilíbrio aconteceu? O mesmo pode ser considerado em relação à saúde. Como definir precisamente o resgate do equilíbrio?
Como sistemas vivos, estamos constantemente formando um ciclo de nascimento e morte. Nada se mantém igual. Células se renovam, energias são transformadas, matérias absorvidas, enfim, mudamos muito o tempo todo, mesmo que não possamos perceber o que está acontecendo.
Se considerarmos apenas nossos corpos físicos, ainda assim, não poderemos sinceramente dizer que sabemos realmente o que está acontecendo dentro de nós. Caso levemos em consideração níveis mentais e emocionais, o complicado se torna assustador. Acrescendo níveis de energias, estaremos perto do caos.
Diz-se: Saúde é o estado do indivíduo cujas funções orgânicas, físicas e mentais se acham em situação normal. Agora entramos nos labirintos das elaborações mentais. Qual é o real significado de normal? Até aqui não consegui nada que explique tal estado.
Pense: entre um subnutrido trabalhador africano e um obeso executivo americano é possível imaginar um “normal” que se encaixe? Se tentar se proteger com o conceito de média razoável, estará se arriscando a assassinar um dos dois.
Em termos materialistas acho que a única cura completa é a morte. Essa cura todos os males para quem acredita que termina aí. Como não penso assim, chego à conclusão que não se pode esperar um estado fixo de saúde, porque nos transformamos a cada segundo. Nossa tarefa é manter um equilíbrio razoável entre momentos saudáveis e outros de doença. Os intervalos de cura são, de fato, expressões de crescimentos e amadurecimento. A cura é como o cimento entre tijolos. São provas concretas que escalamos mais um degrau sem, no entanto, dar garantias de que não iremos cair novamente. Cairemos certamente. Muitas vezes! É um pagamento justo a nossa capacidade de nos superarmos, nos reinventarmos.
Só mais um pensamento: quando aceitamos nossa fragilidade, nossa constante jornada de transformação, tendemos a andar com mais consciência, a nos cuidarmos com mais atenção e isso não só evita quedas de grandes alturas e aumenta o intervalo entre tombos, mas também faz com que nos restabeleçamos mais rapidamente e com mais vigor. Aprendendo a lidar com o desequilíbrio natural ao ser humano, descobrimos a capacidade de resgatar um equilíbrio mais elevado e deixamos de lado o conceito de normalidade que em geral só faz com que o homem se permita ser menor do que pode ser.

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