domingo, 26 de setembro de 2010

Transição



Faria diferença se tivesse berrado mais, lutado mais, implorado mais? Em que momento, o diálogo se tornou briga e a comunicação se perdeu nas mágoas e cobranças? Ainda que lembre de outros remendos e que a esperança faça cócegas no peito, o peso passou do limite. Fui vencida pela realidade e me entreguei. Caminhos paralelos não são estranhos afinal. A vida é assim; cruzamentos, desvios, estradas curvilíneas, percursos diversos. Uma infinidade de trajetórias que nos levam adiante. Sem retornos... Apenas o movimento para frente... No tempo que não volta. Não sei se é um desequilíbrio no processo de crescimento, piada cósmica ou aprendizado divino. Intuo que seja o que melhor traduz a escolha de cada um. Andar juntos até que não seja mais necessário ou suficiente. Respeitar diferenças e deixar ir. Soltar, abrir mão, recomeçar. Mudanças que nos mostram quantas são as opções á frente. Seja com amigos, amores, conhecidos, parentes ou qualquer tipo de relação, nem sempre a história é sem fim. Ainda que acabe e recomece. Períodos de parada e separação acontecem e lidar com eles é desafio cheio de dor e medo. Principalmente quando não se percebe mais uma forma de manter vivo o que antes era de todo precioso. Parece que algo se quebra ou descola e nessa ruptura o desamparo mostra a criança escondida no inconsciente que ainda anseia por segurança e colo. Falta voz para exigir. Apenas a desilusão de um coração quebrado. Mergulho forçado na água fria da solidão. Toda a estrutura é transformada em escombros que ameaçam a integridade. Riscos que faríamos de tudo para esquecer. Céu sem estrelas e uma escuridão vazia e asfixiante. Nada mais a fazer além de se encolher e esperar... Talvez percorrer lembranças de olhares que diziam tudo, mãos que confiaram, toques que fizeram curar, silêncios cheios de significado. Recordar o valor do que vivemos e partilhamos. Acordar os sentimentos que geraram tanto.... Aceitar a ferida que pulsa desalento e amar a força inescrupulosa da vida que se refaz. Desaparecer nas lágrimas do afastamento reconhecido e não desejado. Esvaziar. Eternizar na gratidão. E ter fé. Tudo passa... Morre e renasce. Transformar e crescer... E esperar que volte a florescer. Ou não.

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