segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Prazer e crescimento


Numa sociedade como a nossa é comum associarmos sofrer com crescer. Por motivos, que não vou abordar aqui, temos o slogan “no pain, no gain” (sem dor, sem ganho) incrustado em nossa coluna vertebral. Vemos crises como eventos dolorosos que nos despertam para erros e reavaliações. E de certa maneira isso é verdade. Sofrimentos têm a capacidade de nos paralisar e criar o espaço para mudanças. Acredito, porém, que a doença humana se perpetua porque paramos aí e não percebemos que não é suficiente. Para crescer e transformar não só temos que aceitar e validar a dor, mas e principalmente temos que abrir as portas para o prazer.
É surpreendente que num mundo que prioriza o raciocínio ainda seja possível se comportar de forma tão limitada e retrógrada. Chafurdamos com esmero nas lamas emocionais e tentamos acreditar que nos fortalecemos com isso. Se fosse o caso, estaríamos vivendo num paraíso, já que não nos faltam exemplos de sacrifícios e dor. Ser capaz de se mover indefinidamente no desconforto, não é sinal de nada além de patologia. A saúde só se restabelece quando saímos do desequilíbrio e para isso temos que aprender a sermos verdadeiramente amorosos conosco. Não há possibilidade de cura sem descanso, medicação e mudanças de hábitos.
Embora materialmente falando, esse seja um conceito aceito, na visão mais ampla e holística ainda resistimos intensamente ao que significa.
Tomamos providências para “consertar” nosso corpo porque tememos a morte, mas se falamos do emocional, os sinos internos badalam e nos obrigamos a persistir, acomodar, diminuir, padecer, ceder até não sermos mais capazes de lembrar que merecemos a felicidade e a paz.
Um corpo doente equivale a uma relação desequilibrada, um trabalho limitante, e tantas outras situações onde não somos o que deveríamos e poderíamos ser. Infelizmente, usamos nosso medo do fim carnal para buscar saúde e nos outros casos esse mesmo medo nos mantém prisioneiros do conhecido. Agarrados e receosos barganhamos para não ter que mudar, deixar ir, finalizar. E nos tornamos cada vez mais subnutridos, frágeis e infelizes.
Saúde significa ser apto a se relacionar com o mundo de maneira a enfrentar os desafios e crises e manter a capacidade de interagir intelectual e emocionalmente com as pessoas. Saúde tem haver com bem estar em todos os níveis. A simples ausência da doença, não determina o estado saudável.
Usamos uma quantidade assustadora de tempo e energia para lutar e transcender os eventos do dia a dia. E nesse processo abrimos mão do compromisso com o relaxamento, a nutrição emocional, e prazer.
Podemos lidar com perigos, conflitos, debates, mas ficamos perdidos quando precisamos demonstrar nossa suavidade, nosso amor, nossa verdade. Não nos valorizamos ou priorizamos. Lutamos para sobreviver e ser reconhecidos, enquanto deixamos de lado viver e sermos aceitos e amados.
Crescimento fala de expansão, aprofundamento, sabedoria. Sofrer traz a oportunidade, ser feliz enraíza e aproxima. Cair e quebrar a perna nos joga na cama. O gesso imobiliza e protege. E curar significa assumir a responsabilidade da parada, respeitar os limites que a imobilidade acarreta e especialmente ser capaz de aceitar o auxílio que todo esse processo envolve. Nada é separado. Tudo é importante e necessário.
Resumindo: Enquanto nos privarmos da alegria, do relaxamento e do reconhecimento de nossas necessidades emocionais, estaremos atados e enjaulados num movimento cíclico e improdutivo que nos leva de crise a crise e dor a dor. O aprendizado é lembrar que merecemos nosso cuidado amoroso e que desequilibramos e adoecemos quando paramos de nos respeitar e reconhecer.
Crescer só acontece quando valorizamos o que somos e nos presenteamos com a alegria de viver.

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