
Sempre me imaginei uma pessoa prática que não briga muito com o que acontece e tenta, na medida do possível, encurtar o caminho para a resolução de problemas. Com a maturidade percebo que não é bem assim. Para ser prática verdadeiramente teria que ser capaz de ver os eventos e as pessoas sem levar em consideração o que poderia ser. Percebo agora que minha visão é ridiculamente otimista e tende a me levar para situações e relações no mínimo interessantes. Acho que sou meio Don Quixote, versão feminina. Brigo com dragões imaginários e vejo beleza até mesmo onde não existe.
Como conseqüência natural, obviamente, vivo relacionamentos que não podem ser definidos como tradicionais. Toda pessoa me parece um presente da vida que abre portas para grandes aventuras e crescimento individual. Minha forma de estar disponível cria um espaço enorme para "negociações" e exatamente pela mesma razão, pode gerar uma grande dificuldade em perceber limites.
Olhar o que potencialmente pode florescer não assegura que vá acontecer e não foram poucas as vezes em que me vi tristemente obrigada a engolir a verdade de que independente da minha esperança e apoio as vezes as coisas simplementes são diferentes do que gostaria que fossem.
Durante muito mais tempo do que poderia considerar saudável, lutei com unhas e dentes para transformar aquilo que sentia aquém das possibilidades e fiz vítimas que sofreram todo tipo de cobrança e exigência.
Felizmente, aprendi, ou melhor, estou aprendendo a pegar leve, aceitar limitações e deixar ir. E certo que ainda dói e acho que faz parte.
De quando em quando alguém aparece e sabemos por intuição que será um marco em nossas vidas. Há pouco tempo, conheci uma pessoa que teve esse papel para mim. Durante todo o tempo em que convivemos, nos colocamos em lados opostos da gangorra e recebemos um do outro ensinamentos muitos diferentes. Seria encantador imaginar que recebi tanto quanto dei, mas não acho que tenha sido assim. Enquanto me senti nutrida e incentivada a desabrochar, acabei sendo premiada com uma recusa indireta e uma defesa temerosa traduzida na sensação de cobranças e sufocamento. Penso que receber amor é muito mais complicado do que aprender a amar. Estar vulnerável e aberto, disponível e entregue, nos remete a um espaço que beira o desamparo e nos faz antecipar perigos dolorosos. Não é fácil e posso compreender quando alguém teme ser amado.
Sei que tendo a empurrar pessoas para seus limites e incentivar situações críticas. Parece que minha natureza me leva a buscar a realidade de forma bem assertiva. Máscaras podem ser mantidas enquanto negociamos no racional social. Mas nas crises não há como se esconder. E é aí que o que somos se faz ver claramente.
Como lidamos com esses momentos complicados, seja aos berros, paralisados pelo medo, seguramente sentados em muros altos e distantes, ou dobrando as mangas e colocando as mãos na massa, mostra o que podemos trazer para a relação. E desfaz a possibilidade do engano.
Já gastei muito tempo com pessoas que aparentam empenho e dedicação admirável e que na hora da crise, literalmente encolheram o rabo e saíram correndo. Assim como já vivi surpreendentes momentos onde de quem menos esperava, recebi uma entrega comprometida e destemida frente à dor mais profunda.
Todas as relações lidam com mecanismos inconscientes, condicionamentos, projeções, expectativas e tantas outras armadilhas mentais. Quanto mais cedo percebemos as debilidades, receios e mecanismos de sabotagem, tanto melhor. Não se trata apenas de evitar sofrimento à longo prazo. Perceber o que é real nos dá a chance de resgatar o poder de mudar. Melhor que andar no escuro, tateando e batendo a cabeça na parede é simplesmente acender a luz. E mesmo que o cenário se mostre feio e árido, a visão lhe presenteia com escolha e transformação.
Sei que o que se considera relação de sucesso geralmente traduz a idéia de eternidade de convívio. Na minha vida, por motivos diferentes, considero de sucesso a relação que me faz sentir que cresci, que me coloquei honestamente e que me mantém aberta e sedenta por novas oportunidades. Ainda que nunca mais encontre a pessoa com que me relacionei, ou que sinta que a comunicação não é mais possível, ou que simplesmente a considere totalmente incapaz de me reconhecer em verdade, se permaneço aberta, então obtive sucesso!
Tudo muda na vida o tempo todo. O que não muda é o fato de que no final do dia temos que acertar nossas contas conosco e mais ninguém. Sozinhos não temos como nos esconder do que fizemos, sentimos, ou escolhemos. Nossa verdade nos persegue aonde vamos. E se fugir de alguém é algo possível.... fugir do que somos... não é! Então, frente a tantas escolhas, me descobrir pouco prática mas eternamente otimista gera certo conforto. Posso errar feio, cair de quatro, ter meu coração partido, ser traída, e ainda assim sei com cada célula do meu corpo que amanhã será outro dia. Um lindo belo e novo dia!
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