domingo, 21 de fevereiro de 2010

Quando criança.



Das sensações que recordo de quando era criança, uma das que mais gosto é o prazer físico de estar vivendo o momento sem medo. Por mais distante que seja, ainda sou capaz de sentir claramente a força e abertura que experimentei saboreando o mundo colorido de segurança e amor. E agradeço todos os dias por ter tido pais que souberam criar essa atmosfera que marcou cada passo da minha vida. Creio que foi esse solo que determinou a direção e qualidade do meu desenvolvimento. E faz sentido relacionar esse início privilegiado com a forma como sempre encarei a vida.
Os sentimentos entre as pessoas sempre me atraíram, assim como compreender a confusão que sentia quando mensagens faladas não correspondiam as mensagens energéticas que recebia. Desde muito cedo fui desenvolvendo uma forma própria de ler a “verdade” nas situações que se apresentavam em minha vida. Percebi que na maior parte do tempo, temos medo de mostrarmos o que realmente está acontecendo dentro de nós. E temos uma longa lista de explicações racionais para viver dessa maneira. No fundo, apenas estamos sendo movidos por medo, vergonha ou culpa. Escondemos os pensamentos que sussurram: Não devo ser assim!
Mas, afinal de contas o que faz o ser humano digno e com valor?
Na minha experiência, a única coisa que realmente importa é estar consciente do que somos no momento presente. E se fossemos capazes de nos comportar autenticamente...
Não existe emoção negativa. Existe uma utilização destrutiva da energia do sentimento. A raiva em si não gera danos. A atitude inconsciente da raiva já cria outro quadro.
É difícil explicar a importância e suprema necessidade de se colocar em primeiro plano. Não é desenvolver um egoísmo, mas sim assumir a responsabilidade da criação do que esperamos ser um planeta saudável. Por exemplo; todas as religiões falam de amor ao próximo. Como poderemos amar o outro se somos tão inflexíveis conosco? Não nos ouvimos, não validamos nossos sentimentos, vivemos com a sensação de que não somos bons o suficiente, imaginamos que somos o reconhecimento público, abrimos mão de reais momentos por possíveis aquisições materiais, etc... Enfim, não sabemos nos respeitar, compreender, aceitar, perdoar e amar. Como posso dar o que não tenho?
Se cada ser humano fosse capaz de se olhar como filho de Deus, provavelmente se trataria melhor. O criador deu à criação a escolha de seu desenvolvimento. O que estamos fazendo?
Todas as pessoas que conheci e que me marcaram o coração foram as que escolheram viver o que são. Até porque isso é tudo que podemos fazer. E em verdade, somos melhores nas partes que aprendemos a esconder. Não escondemos a vingança, a traição, o ciúme, a possessividade, etc. Damos nomes e justificativas para que continuemos doentes assim. Aceitamos pérolas como: matou por amor. Que possibilidade de crescimento real teremos enquanto aceitarmos esse tipo de afirmação? Mata-se porque se desconhece o amor. Vinga-se porque não se conhece a alegria do perdão. Pelo direito não usufruído da liberdade, traímos. E assim por diante.
Até quando teremos que sofrer para começarmos a investir nos sentimentos que nutrem e elevam? Até onde teremos que ir para conseguirmos perceber que nunca saímos realmente do lugar? A vida acontece dentro de cada um e transborda através das escolhas internas que se transformam na realidade desse momento. E novamente acontece internamente, criando uma cadeia de eventos.
O mundo pode mudar e muda a todo momento. A qualidade da vida é proporcional ao paladar de cada um. E paladar como qualquer outro sentido pode ser trabalhado e desenvolvido.
Voltando a minha infância, devo dizer que a presença do amor me deu confiança para explorar, descobrir, cair, errar, expressar e crescer. Essa foi a vida que aprendi e com a qual me comprometi. Estar no momento confiando no amor. Gostaria que fosse assim para todo mundo.

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