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Todo ser humano tem direito de ser feliz! Acho que ouvi essa frase um milhão de vezes. E pela primeira vez me dei conta dos conceitos escondidos nessa sentença. Para início de conversa, quem decide o que é dever e o que é direito? Quem deu a essa pessoa o poder de impor essas idéias aos outros?
Segundo, se acredito que a felicidade é um direito, até que ponto posso fazê-lo valer? E quando acato a decisão de outros de que felicidade é direito, não passo a acreditar que isso é algo que deve ser causado e preservado por outros?
Muda algo se desejar que a felicidade seja um dever? Afinal, dever é aquilo que sinto a responsabilidade em cumprir. Uma ação que começa e termina em mim.
Sendo a felicidade algo que varia de ser para ser, e que certamente é essencial para a vida, não deveria ser missão pessoal exercida por passos individuais conscientes?
Mas, a parte mais desumana nessa frase é que subentende que todo ser humano é capaz de ser feliz. Será?
O que é a felicidade senão a habilidade em se sentir confortável e suficiente em si próprio? Feliz é aquele que se contenta em estar vivo. Todo o resto é apenas a oportunidade de transbordar esse estado de ser.
Parece utópico... difícil... irreal.
Pois, pare e pense em todos os momentos que considera como felizes. Perceberá que não o foi por isso ou aquilo, mas sim pela sensação de preenchimento interior.
Não há profissão que não exija muito estudo, tempo de dedicação e prática exaustiva. Todo bom profissional tem que se comprometer em pesquisar e gastar horas materializando todo esse conhecimento. No que se trata do mundo interior, a lógica é jogada no lixo. Temos energia e tempo para investir nas maiores barbaridades. E quase nenhum para investirmos em nós mesmos.
E se não nos conhecemos, como poderemos definir ou lutar por felicidade?
Nas relações afetivas tenho presenciado fenômenos muito infelizes. Creio que 90 % dos relacionamentos terminam pelo medo da felicidade. Assim como baratas, o ser humano é capaz de se adaptar a todo tipo de situação adversa. Lidamos com dores, faltas, desrespeito, abusos e sobrevivemos. Mas, quando somos convidados a crescer, a nutrir, a compartilhar, saímos correndo assustados. Basta pensar no que faz as pessoas procurarem ajuda. Em geral, reclamam de solidão, de sensação de tédio, de frustração e de falta de contato. Deprimidas ou hiper ativas a busca é como se encaixar na “realidade” de suas vidas. E a realidade é de infelicidade. Até aqui, todo mundo chega. E a grande maioria desiste nesse ponto.
O problema se faz ver e pode ser traduzido na falta de felicidade. Direito ou dever? Se tenho o direito por que não aceito as mudanças que preciso fazer? Por que temo expor meus sentimentos verdadeiros? Por que me sinto tão ameaçado com a perspectiva de fazer diferente? Se assumo o dever, sinto que me transformo num ser egoísta. Culpo-me pelas dores que vou causar. Questiono se não seria melhor agüentar mais um pouco por um bem maior?
O fato é que sentimos que não somos bons o suficiente. E por isso não acreditamos que as pessoas que nos são importantes realmente nos amam. Nos comportamos como pensamos que os outros esperam que nos comportemos porque assim damos razões para que permaneçam ao nosso lado. Como é possível ser feliz, quando não nos olhamos com carinho, respeito e aceitação?
Quantos de nós somos capazes de nos olharmos no espelho e realmente dizer: Puxa! Eu Sou Demais!!! EU ME AMO MUIIIIITO!!! Em geral, só pensar nisso, gera desconforto e sensação de ridículo.
Dizemos que queremos o melhor para as pessoas que amamos. E nos deixamos fora dessa regra.
Cansei de encontrar casais que se arrastam em relações cronicamente áridas, desamorosas, repletas de solidão e pelos motivos mais infantis nelas se mantém ad infinitum. Como podemos imaginar que tais pessoas se sentem com direito a felicidade?
Em que vida? Nessa certamente não será.
Felicidade é um acontecimento interno. Uma decisão pessoal de escolher aquilo que há de belo na vida. Coragem para dizer não ao que nos faz menores e sim ao que traz crescimento.
Muito estranho imaginar o direito de ser feliz num mundo onde não há o compromisso de se conhecer e se mostrar em verdade. Muito triste viver num mundo sem o dever de ser feliz nos impulsionando a nos conhecer profundamente e desenvolver ao máximo de nossas potencialidades.
Que todos experimentem olhar o reflexo no espelho e amorosamente convidar o que vêem a construir um novo mundo onde o que se torna frase comum não seja sinônimo de algo que no fundo já deixou de ter valor.
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