domingo, 6 de dezembro de 2009

Respiração e Crescimento






É bem complicado resumir o trabalho com técnicas de respiração. Não é psicoterapia embora lide com padrões de comportamento e condicionamentos. Não é fisioterapia embora envolva liberação de couraças musculares, dissolva erros de postura e desperte consciência corporal. Não é religião embora acorde a religiosidade e desperte a busca por algo maior. Como então falar sobre essa forma de crescimento?
Não existe nada mais simples do que respirar. Qualquer pessoa é capaz de conscientemente aprofundar a respiração. O que faz a diferença num trabalho como esse é que passamos a compreender que é através da respiração que nos tornamos inteiros novamente. Somos um complexo de forças interagindo o tempo todo. Energias, sentimentos, matérias e mistérios presos num invólucro que se modifica constantemente.
Nosso processo de crescimento é limitado por regras sociais de comportamento em níveis muito profundos. Sem nos darmos conta, “herdamos formas corretas” de pensar, mover, expressar e sentir. A dificuldade acontece porque somos obrigados a nos encaixar em tamanho único o que nem sempre é possível ou confortável. O que deixamos de lado é a unicidade de cada pessoa. E não importa quão bela seja a caixa, gaiola, recipiente, caso não nos permita liberdade de movimento, acaba por nos fazer encolher, contorcer, até finalmente aleijar.
Todo esse processo de controle e ajustamento é feito através da repressão dos movimentos energéticos naturais do corpo. E isso é feito pela diminuição inconsciente da capacidade de respirar.
Todas as variadas opções de terapias têm valor e mérito, mas cada uma lida com uma parte isolada do nosso ser. Exceto quando se usa a respiração.
Usando a lógica, podemos dizer que respirar nada mais é do que refazer a ponte entre todas as camadas do ser. Respirar enche o corpo de energia. E sentir só é possível se o corpo está repleto de energia. A partir daí uma cadeia de eventos se torna possível. Mais energia aguça a sensibilidade e acorda a capacidade de observar a totalidade. Ampliando nossa visão despertamos raciocínio criativo. E criatividade gera consciência global. Começamos atuando na matéria/corpo, no que é mais denso, e vamos transbordando para as outras áreas. A mágica da transformação acontece porque ao fazermos essa viagem mudamos o foco completamente. Respirar é individualidade. Respirar é o momento em que deixamos o mundo lá fora e usamos o presente para “estudarmos” o que acontece dentro da gente. Mais do que um processo físico, inspirar e expirar conscientemente gera um espaço de investigação profunda que nos obriga a enxergar o quanto somos maiores do que fomos “convidados” a acreditar. Apesar do imenso número de papéis que fomos ensinados a desempenhar, não atuamos com integridade no dia a dia. Isso acontece porque aceitamos essas representações como a totalidade de nossa potencialidade. Estamos sempre agindo em respostas as questões externas e isso nos exige tamanho esforço que esquecemos de validar as questões internas.
A integridade é restaurada quando entendemos que precisamos ir além das polaridades. Sociedade não tem sentido se anulamos o conceito de indivíduo. Pensar se torna árido sem a poesia do sentir.
Internamente somos um universo complexo, misterioso, mutável. Se não relaxamos dentro da multiplicidade, se não nos deixamos levar, permanecemos numa luta que gera apenas tensão, desequilíbrio e exaustão. Instinto, espontaneidade, verdade emocional precisam ser resgatados. A realidade do que somos é sempre maior do que o que esperam de nós. E respirar é assumir o compromisso de se aventurar nas águas profundas e misteriosas que nos fazem completos. Ser livre não é sinônimo de transgressão. Ser livre é semear, regar, desabrochar e perfumar o mundo. Uma responsabilidade imensa que exige muito. Sem completarmos cada parte desse ciclo, vivemos uma vida aquém do que merecemos e prejudicamos tudo o que podemos realizar. Se a vida é um jardim, podemos escolher fazê-la mata virgem ou estufa. O controle pode gerar frutos politicamente corretos. A totalidade gera frutos saudáveis e saborosos. Temos escolha. Cada um vive o que decide e colhe o que plantou.
Quando inteiramente vivos, descobrimos que ainda somos capazes de explodir em prazer, compaixão, entrega, alegria e amor. Quando encaixados e bem comportados, energeticamente restritos, produzimos muito, somos eficientes e até reconhecidos, mas pouco sabemos sobre saúde, relaxamento e compartilhar.
Vivos ou semi-vivos, a diferença é apenas de uma respiração!

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