domingo, 13 de setembro de 2009

Prazer



Todo ser humano tem duas forças básicas atuando constantemente: a busca da sobrevivência e a do prazer. Todo movimento é inspirado por uma delas. Infelizmente, nosso mundo se tornou um lugar árduo. Lutamos com tanta intensidade para sobreviver que tivemos que empurrar nossos desejos e anseios para um quartinho escuro chamado inconsciente. Conquistar e possuir são as bases do que acreditamos ser a forma de permanecer vivos. Correndo para atingir metas e realizações, nos desconectamos com a própria essência do que é a satisfação do prazer.
Parece que a sombra desse desejo de nutrição nos mantém sempre famintos, angustiados, sedentos por algo que não sabemos definir ou preencher. Mas, não temos oportunidade ou tempo para refletir, perceber ou acalentar esse chamado da alma. Justificamos com regras sociais ou religiosas essa necessidade de prosseguir sem trégua ou descanso. Seria perfeito se fossemos meras maquinas capazes de manter a produção independente de qualquer sentimento. No entanto, somos filhos do universo e por isso não podemos evitar o chamado da simplicidade, compaixão, harmonia, abundância, entrega e amor.
O que é prazer, afinal? Para muitos, a resposta seria ser capaz de “comprar” tudo o que se deseja. Para outros, significaria uma mesa sempre farta e um lar com simplório conforto. Mas, no meu entender, prazer é todo e qualquer evento capaz de lhe fazer respirar fundo ou de perder a respiração.
Respirar é a ponte para sentir! E prazer é o momento intenso que preenche cada célula com a intensa alegria de estar inteiro, preenchido, perfeitamente encaixado no todo. E para nossa sorte e fortuna, prazer vem quando nos despimos, abrimos mão, confiamos e permitimos.
Prazer é corpo conectado com a alma. Coração aberto e receptivo. Confiança da mágica da vida. Sabedoria que ilumina e acorda. E é grátis!!!!
Momentos de felicidade que nos conectam com algo verdadeiro demais para expressar. Simplicidade infantil recheada de silêncio comovido. Inspiração divina acrescido de intimidade inquestionável. Instante cheio de significado acima da compreensão humana.
Surpreendentemente, apesar de termos a chama da busca pelo prazer nos desafiando constantemente, ainda assim não ousamos nos deixar levar. Permanecemos escondidos nas máscaras da maturidade e responsabilidade e desistimos das oportunidades de nos elevar.
Fica a saudade do banho de chuva de verão da infância, das frutas comidas sem elegância, dos abraços inocentes, do riso alto e despreocupado de tantos anos atrás, dos cafunés recebidos com tanto zelo, das caminhadas de pés descalços enraizados na confiança de que tudo está sempre bem. Fica a lembrança do que passou como se fosse suficiente para nos manter em pé. E assim, esquecemos os amigos, os filhos, os irmãos, as esperanças, as confidências, os descansos, e o amor.
Prazer é confiar e receber. É ouvir, acolher e expressar o que nosso coração sussurra. É se permitir ser sem medo de abandono, rejeição ou julgamento. É ter o corpo aquecido pela presença de algo que desperta, arrepia, convida e recebe. É sono profundo, repouso e renovação. É o ar que revitaliza, o alimento que nutre e a força que nos impulsiona para concretizar. E acontece de forma simples, silenciosa, cheia de mistério. O olhar que confidencia. O toque que acalma. A beleza que faz sentido. O sorriso que nos faz leve.
E por isso e muito mais, entre tantos compromissos, tantas obrigações, que sejamos todos capazes de frear o delírio que nos faz passar pela vida sem viver. Que possamos voltar um pouco na imensa sabedoria que tivemos quando criança e nos lembrarmos que somos mais do que máquinas desprovidas de necessidades reais. Apenas uma respiração profunda... um momento de clareza... e uma permissão para nos elevarmos ainda que apenas por um segundo, nas asas da realização de algum prazer!

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