quarta-feira, 11 de março de 2009

Plantar, cultivar e colher.



Diz-se que o plantio é opcional, a colheita obrigatória! Nada se fala sobre o cultivo. Na árdua tarefa dos relacionamentos, planta-se e colhe-se o tempo todo. No entanto, são poucas as pessoas que pensam na possibilidade remota de ter alguma participação ativa no processo de cultivo.
Toda a pessoa que lida com plantas, sabe e acha óbvio, que depois de colocada a semente na terra é necessário tomar muitos outros cuidados para garantir o crescimento saudável da mesma. Não há dúvidas que mesmo sem qualquer ajuda ou interferência exista a possibilidade da planta vingar. No entanto, quando queremos qualidade e belos frutos, um comportamento atencioso e constante faz toda a diferença. Não adianta inundar o vaso e passar dias sem regar. Nem esquecer a intensidade do sol e depois recolher na mais profunda escuridão. Há de se achar a certa medida. E seguindo o raciocínio lógico da ciência... Tempo, estudo e atenção serão necessários para desenvolver habilidades e conhecimentos para saber o que e o como fazer para que tudo dê certo. O mesmo se aplica a qualquer relação com algo que esteja vivo.
Estranhamente, temos a inclinação de deixar que o tempo nos torne cegos. É como a estátua de bronze que compramos com grande sacrifício e passamos meses exibindo, limpando e admirando... até que vira apenas mais uma peça da estante, mais um objeto para limpar... e nem entendemos mais porque tivemos a louca idéia de adquirir. O mesmo acontece com o bicho de estimação comprado pelo carinho e alegria que trazem a um momento doloroso na vida, como a enfermidade de alguém que amamos. No início, nos agarramos a ele, ensinando laços apertados de contato, para depois o deixarmos a mingua quando tudo se acerta. E ainda somos desagradavelmente ingratos reagindo a seu comportamento amoroso como limites que não deveriam existir. Afinal, não passa de um bicho! E o pobrezinho, de conforto passa a estorvo sem que possa entender o que fez para merecer tal descaso.
O que dizer então das relações entre humanos? Quando conhecemos alguém, gastamos tempo e energia para criar laços. Cuidamos, acalentamos, nos mantemos presentes. Até que nos deixamos acreditar que o laço se torna auto - sustentável. Paramos de ver, de prestar atenção e nos surpreendemos quando acordamos dormindo ao lado de um estranho... Reclamamos, culpamos, nos debatemos tentando encontrar justificativas que façam sentido para explicar o desastre. Rotina, trabalho e filhos são as mais usadas. Meia verdade que cria resultado pior que a mais deslavada mentira.
Somos responsáveis únicos pelas dores e desapontamentos. A vida é o espaço para fazer escolhas a cada momento. Escolhas no aqui e no agora. Onde apenas o novo existe. Quando foco em qualquer coisa, exerço meu livre arbítrio e colho o que plantei. Se cultivo com sabedoria, tenho bons frutos. Se cultivo com ausência, não deveria reclamar da falta de gosto do fruto.
A parte mais triste é que o externo sempre exemplifica o que acontece internamente. Ou seja, adormecemos recorrentemente. Esquecemos que mudamos a cada dia. Que acordamos diariamente outros! E como não olhamos para isso, deixamos que pensamentos arquivados direcionem nossas vidas como se ainda fossem verdadeiros e imutáveis. Caímos no modo automático e roboticamente enfrentamos os dias como zumbis. Não é por outra razão que tantos reclamam da falta de sentido da existência humana.
Deixamos a vida passar como se estivéssemos apenas no banco traseiro de um carro sem janelas. Não nos preocupamos com a paisagem ou com a direção. E morremos de coração vazio.
Há de se encontrar o retorno. Há de se lembrar que o prazer e a alegria se encontram quando me comprometo, me entrego e vivo com o coração. Há de se celebrar o cultivo pelo que é; transbordar as qualidades mais elevadas no ser humano: Cuidado, confiança, entrega e amor.

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