sábado, 28 de fevereiro de 2009

Razão ou sentimento



Numa palestra sobre leis naturais, ouvi duas frases que me parecem comuns e totalmente antagônicas, embora sejam ditas e repetidas como verdades supremas. As pérolas são: “Só o amor constrói” e “A vida seria muito mais fácil sem sentimentos e emoções.”
Na minha área de trabalho é exaustivamente previsível encontrar pessoas que se sentem vítimas das emoções e sentimentos e que passam tempo demais tentando compreender a vida através da razão. Obviamente, sentem-se isoladas, restritas, incapazes de preencher o vazio que aprisiona suas almas. E apesar de serem exemplos sofridos do que é a valorização da razão sobre o sentimento, ainda assim se agarram ao medo de sentir e tentam “saber” e controlar esses impulsos emocionais como se fossem algum tipo de patologia.
Existe um tipo de crença generalizada e internacional de que dentro de cada ser humano existe uma besta sempre à espreita da oportunidade de causar estragos e destruições. Supõe-se que a racionalidade é o que eleva o homem e gera progresso e paz. Hilário! Ou sou completamente maluca ou o mundo prova quão mentirosa é essa idéia. Dizem ainda que a capacidade de raciocinar é a base da superioridade humana sobre todos os outros seres nesse planeta. Talvez até pudesse ser... Talvez até venha a ser... Por hora, parece-me apenas a ferramenta usada para estar sempre na contra mão dos processos harmônicos e vitais.
Imagine viver na terra de seres única e exclusivamente racionais. Completamente livres de emoção. Nada pode me criar uma imagem mais árida e fria. E não sou a única a encarar essa possibilidade assim. Intuitivamente sabemos que a superioridade humana está pautada na capacidade de fazer o bem. Todos os representantes das religiões são seres guiados pelo coração. Foram homens e em poucos casos mulheres, que se rebelaram e tiveram a coragem de quebrar as correntes do pensamento analítico. A civilização, a razão, os dogmas, serviram apenas para justiçar seus assassinatos.
O que afinal explica esse receio de aceitar e lidar com os sentimentos? Não encontro outra resposta que não seja nosso medo de assumir a responsabilidade pela criação de nossa própria vida. É mais fácil, embora menos cômodo, culpar, reclamar e esperar que algo aconteça. Em prol de alguma coisa, abrimos mão de nossa verdade. Tentamos aquietar nossos anseios com racionalizações que nos dão a sensação de sacrifício e valor. Infantil e inútil.
Os sentimentos nos fazem acordados para o que acontece nesse momento e é real. É através do sentimento que criamos laços e fazemos pontes entre os seres. Racionalizações criam situações onde um pode sofrer pelo bem de todos. O coração cria situações onde todos precisam ser protegidos e respeitados. É por isso que falamos que amor de mãe é especial. A maternidade traz o amor incondicional. É impossível fazer com que uma mulher concorde que um filho deva padecer no lugar ou em prol de outro. E não se enganem dizendo que algumas mães são capazes disso, porque essas não se encaixam na categoria do amor incondicional. Aliás, aproveito a deixa para partilhar o que tem sido minha experiência no estudo das emoções humanas. A dificuldade gerada pelos sentimentos não está no sentimento em si. É na verdade produto da tentativa de repressão e controle. A negação e recusa em ouvir, respeitar e viver os sentimentos, isso sim gera tantos problemas.
Aprendemos a usar a razão para administrar qualquer situação. Mais somos maiores e melhores que isso. Só razão não é suficiente. E todas as grandes soluções que a história registrou, as que trouxeram resultados positivos, tiveram um “recheio” emocional.
Para a razão, destruir em alguns casos faz sentido. Para o coração: jamais!
Muitos acham que resultados emocionais são imprevisíveis. Certamente, existe mistério na existência humana. Mas, é possível entender regras básicas. Por hora, fiquemos com apenas uma: Tudo é energia! Essa não dá para questionar. Sendo assim, fica fácil entender o que se segue. Sentimentos devem fluir... Energia está sempre em movimento. Quando se represa e contém energia, o que acontece? Uma explosão! Bum!
Busque o equilíbrio emocional e racional. Encontre um meio termo. E se manterá construtivo e sadio. Permita a repressão, o desequilíbrio e colha os frutos da explosão. A escolha é de cada um, mas o efeito é para todos. Lembre-se: tudo é energia... NÃO EXISTE REALMENTE UMA FRONTEIRA! O que fazemos atinge a todos. A energia que alimentamos, cresce para todos.
Voltemos às pérolas: Se só o amor constrói... Cultive a arte de ouvir os suspiros do seu coração. Pare de brigar para não sentir. Cada parte de nós é divinamente perfeita e precisa ser aceita. Se perceba por completo. Usa a razão para se lembrar que tudo é energia em movimento e que a vida flui o tempo todo. Transforme, crie e esteja atento ao momento. Viver com sentimentos talvez seja mais complicado. No entanto, garanto que é muito mais intenso, divertido e recompensador.

Nenhum comentário: