Há um pouco mais de um ano atrás, uma moça me procurou para ter sessões de respiração. Nosso primeiro encontro foi uma surpresa, já que sua aparência era a de uma pessoa cheia de vida. Articulada, sincera e doce abriu o coração e disse: -“Quero respirar melhor porque estou com câncer no pulmão”.
Não costumo atender esse tipo de caso, mas não pude evitar a simpatia imediata que senti e após explicar que a respiração poderia ajudar seu caminhar, mas certamente não era sinônimo de cura, aceitei trabalhar com ela.
Mesmo com a quimioterapia e a perda dos cabelos, tinha uma expressão que encantava e fazia acreditar num processo lento e gradual de volta à saúde.
Caminhamos juntas por vários meses. O câncer no Pulmão foi controlado. E a esperança crescia. De repente vieram as dores. Apareciam e desapareciam sem explicação. Metástases na coluna. Quatro pontos pequeninos. Ambas perdemos o ar. Mas, sem vacilar continuamos andando e trabalhando. Apenas um tropeço, pensamos.
Foi aí que a existência resolveu interferir. Uma oportunidade de tirar férias. Pensei em deixar para depois. Mas, foram muitos os anos sem intervalos para me refazer e como a radioterapia estava acontecendo e ela se mantinha forte e confiante, decidimos que não haveria problemas. Nos despedimos com carinho e tranqüilidade.
Nesse mês, apenas 30 dias, todo o quadro mudou. O câncer chegou feroz ao cérebro. Convulsão, exaustão e despedida. Só tivemos tempo para falar ao telefone prometendo não desistir e recomeçar logo. Não imaginei que estava me poupando de situação em que se encontrava. Não percebi na voz o cansaço, a fraqueza ou proximidade da morte. E devo confessar de forma egoísta que me sinto agradecida.
De cliente foi aos poucos se tornando grande amiga. Querida e respeitada. Creio que a doença fez-lhe verdadeira, presente, atenta aos presentes escondidos em cada momento vivido. Esse ano criou laços intensos, daqueles que geralmente levamos anos para criar com as pessoas que estão “supostamente” saudáveis.
Não me despedi como gostaria. Fiquei até um pouco envergonhada por ter sido poupada de seu sofrimento. Mas, acho que isso é o que amigos fazem. Se mostram amorosos, mesmo na crise. Estranhamente, não consegui chorar. Apenas uma sensação de falta apertando meu coração. Uma esperança de dobrar a esquina e vê-la passar sorrindo.
Dizem que a perda dói não porque perdemos uma pessoa querida, mas sim porque perdemos a chance de sentir aquilo que aquela pessoa faz vibrar em nosso ser. E nesse caso, oposto ao que esperava, o que vibrou foi fé. Fé na vida apesar de todas as viradas que nos jogam contra a parede. Fé no potencial de cada momento. Fé nos encontros que nos fazem crescer. E principalmente fé nos laços afetivos que mantém os amigos sempre vivos dentro do coração.
Um brinde a uma pessoa que não permaneceu pelo tempo que gostaria, mas que caminhará comigo até que voltemos a nos encontrar.
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