
A imagem acima é parte de uma matéria do Jornal O Dia. Trata-se de um artigo sobre a violência no Rio e mostra uma criança encolhida, tentando se proteger de um tiroteio na região onde estuda e mora. Vale ressaltar que a notícia menciona que essa é uma cena que se repete com freqüência.
Lembro-me de ter assistido há muitos anos uma entrevista com uma artista da Globo. Respondendo sobre sua opinião em relação ao aborto, essa atriz teve a coragem de dizer que era a favor do mesmo, já que tinha consciência do número absurdo de crianças que eram “abortadas” pela sociedade no decorrer de suas breves vidas. Estamos falando de uma entrevista dada há pelo menos 20 anos.
O que mudou?
A situação piorou e o ser humano ficou ainda mais hipócrita.
O tema aborto está novamente na moda. Gasta-se tempo e dinheiro discutindo o assunto. Enquanto isso crianças passam fome, moram nas ruas, são mortas por tiros perdidos, freqüentam escolas que não lhes preparam para a vida, são vítimas de todo tipo de violência incluindo o descaso familiar até a pedofilia, são roubadas de suas famílias para serem mortas e serem incluídas no comércio de órgãos humanos, são usadas em prostituição e tráfico de drogas, enfim, todo tipo de barbaridade que se possa imaginar. E as pessoas responsáveis por impedir que essas coisas aconteçam, simplesmente se dão ao direito de julgar o que uma mãe deve fazer com seu, ainda por nascer, bebê. Lembre-se que nenhuma dessa calamidades são recentes.
Agora me diga: Qual mãe em sã consciência vai querer seu filho enfrentando esse mundo atroz?
Se sou a favor do aborto? Não sou! Sou apenas uma mulher exausta e aflita por ter de viver nesse mundo doente em que estamos vivendo. Alguém que olha ao redor e se pergunta como ainda nos damos ao direito de fingir que há espaço para esse tipo de questionamento, supostamente ético, em prol de uma melhora social?
Quer saber o que é imoral ? Não é a mãe que poupa um filho de uma vida, mas sim uma sociedade que aceita que todos os seus integrantes esqueçam o que vida quer dizer. Vida não é isso que estamos vivendo. Sobrevivência é o que ainda estamos conseguindo fazer.
Quem hoje sai de casa se sentindo seguro de que voltará ileso no fim do dia? Quem hoje trabalha num clima amistoso, respeitoso e cordato? Quem hoje pode abrir o peito e dizer com verdade que se sente feliz em estar nesse planeta?
Se pararmos para pensar, não há uma única área da sociedade que seja vista como confiável, honrada e realmente produtiva. E falo em termo mundiais. Exemplos? Áreas primordiais: Saúde, educação, justiça, etc. Preciso elaborar? Todas áreas repletas de falcatruas, desrespeito, roubo, ineficiência, etc. Governo? Só chorando, porque rir não dá mais. Correios? Já foi o tempo! Transporte? Pobres dos idosos, das crianças e das grávidas. Até nas lojas comerciais.... vendedores vivem daquilo que o consumidor deseja comprar e ainda assim o que se encontra são vendedores mal educados, infelizes e normalmente cansados. E a lista seria infinita..
Se sou pessimista? Nem um pouco! Se fosse já teria me abortado.
O que sou é persistente! E escrevo para aliviar a pressão. Para continuar a lembrar que somos muitas as exceções. Que não estou sozinha e que há esperança.
Imagine que nosso corpo é o mundo e que todas essas coisas ruins são frutos de células cancerosas. O câncer tem como característica destruir o que lhe é essencial para sobreviver. Sua conquista desenfreada amplia seus limites, mas elimina toda a vida ao redor. Essa competitividade desmedida, esse avanço desenfreado, esse mover-se frenéticamente sem importar as conseqüências é exatamente igual ao que encontramos nos seres humanos. E é isso que precisa ser extirpado do sistema. Faz-se mister lembrar o indivíduo, suas raízes, seus valores, sua essência e seu direito à vida. E como no câncer o primeiro passo em direção à saúde é perceber que estamos doentes, mas não somos a doença. E que é nossa escolha que criará o resultado final.
A meu ver, é hora de pararmos de olhar para fora e começarmos a encontrar as respostas dentro de cada pessoa. O que é sociedade? Acho que deveria ser uma comunidade que objetiva o bem estar de todos que a ela se associarem. Qual é a contribuição que você dá a sua? Comece com o menor e mais fácil de entender; na sua sociedade familiar, o que tem acontecido? O que pode melhorar? O que gostaria que fosse diferente? E na sua sociedade profissional? Pedaços que fazem à diferença. Pedaços que são indispensáveis na engrenagem da vida.
O fruto depende da semente. E você, assim como eu, somos a semente.
Aquele que ainda acredita que status traz felicidade, vai viver solitário. Aquele que acha que dinheiro traz tudo que precisa para a realização pessoal, jamais poderá gozar (em todos os sentidos) a vida. Aquele que se vitimiza pelas circunstâncias mundiais, nunca saberá o que é amar.
A vida acontece dentro de cada um. Tudo que realmente importa está dentro da semente esperando, ansiando para desabrochar. Não temos mais tempo para questões filosóficas. Nem para nos mantermos seguros fingindo que acreditamos que não fazemos diferença e que não temos poder para mudar.
Criar um lar feliz, fazer o que se gosta, cultivar amigos, redescobrir a capacidade de confiar em seus semelhantes, se nutrir com auto-respeito, e principalmente ser alguém que se orgulha do reflexo no espelho, não custa nada e não depende de ninguém, mas vale uma vida inteira.
Aborto que dizer: Uma vida que não teve chance de acontecer. Isso faz a gente pensar.....
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