domingo, 1 de julho de 2007

O que somos?



Nesses últimos anos, tenho sofrido uma série de grandes transformações. Sofrido mesmo, já que não posso dizer que essas profundas mudanças têm acontecido de maneira prazerosa ou indolor. É estranho que apesar de todo o desconforto no processo de crescimento, haja sempre essa sensação de quero mais, mereço mais, posso mais. Não sou masoquista, nem tenho nenhum apreço particular em aprender pela crise. No entanto, sei que, como qualquer outro ser humano, tendo a acomodar no que posso controlar ou postergar. Então, aprendi a não lutar ou resistir aos obstáculos e desafios que a vida traz e até certo ponto sou capaz de colaborar com eles.
E quanto mais me permito perceber o que acontece comigo nessas transições, mas percebo a urgência de estar alerta a todas as camadas do meu ser. Não sou apenas corpo, ou mente, ou alma, ou emoção ou sei lá mais o que. Sou uma rede intrincada de todos esses elementos e só permaneço saudável se encontro o equilíbrio de todas essas partes. O que é tarefa para Hércules! No meio desse mundo tão inconstante, assustador e cruel, não é fácil manter o foco. Nem tampouco respeitar os limites ou reservar tempo para se cuidar, divertir e nutrir.
Toda nossa educação incentiva o uso da mente, do raciocínio lógico e da análise científica para lidar com a vida. Somos desde cedo questionados de onde viemos e para onde estamos indo. Somos conduzidos a tentar encontrar respostas para nossa existência e sobrevivência. Mas, não me recordo de ter sido induzida a olhar para dentro e descobrir o que sou ou quem sou. Parece que os pais, professores, parentes próximos e amigos, fizeram-me a gentileza de determinar meus rótulos, comportamentos, caminhos a seguir e coisas desse gênero. Supostamente, fizeram-me o favor de mostrar o melhor trajeto para ser socialmente aceita.
Acredito que fui e continuarei a ser um grande desapontamento. E agradeço aos Deuses, toda a noite, por minha capacidade de questionar e rebelar. Não quero ser isso ou aquilo. Quero ser o que sou a cada segundo e manter meu direito de deixar de ser a cada novo segundo. Não quero lógica, análise ou explicação científica. Quero, o que venho descobrindo no decorrer dos anos, ser a minha verdade e a de todas as outras pessoas que ousam fazer jornada semelhante. Uma constante fonte de mudanças, transformações, contrações, expansões, mortes, renascimentos, crescimentos etc, etc, etc. Quero o direito de exemplificar a grandeza misteriosa das galáxias. Sou a gota do oceano, que é o oceano como o todo.
E tendo trabalhado com pessoas corajosas que se permitem tempo e investimento para se conhecerem, me sinto segura em dizer que é cruel aceitar a pequenez das limitações sociais. Aprendemos que devemos ser educados porque precisamos controlar esse monstro que se esconde dentro de cada ser humano e que espera a oportunidade de cometer todo tipo de delito. Somos considerados pecadores potenciais. Criminosos latentes. E acreditando nisso, passamos a vida restritos pelo medo de que isso seja verdade. Abaixamos a cabeça para todo tipo de proposta idiota e tentamos nos tornar bons/boas meninos/as.
Quem já desafiou o terror de fracassar, testemunhará como eu, que o ser humano foi brutalmente enganado. A semente é divina e o ser é sagrado. E os frutos são de qualidades além da razão.
Não somos agressivos, destrutivos ou maus porque nascemos assim. Somos agressivos, destrutivos e maus porque nos esquecemos do que somos e na mais profunda dor, perdemos o controle e explodimos.
Toda a violência nasce da falta de consciência da beleza interior de cada ser. E existem muitos exemplos do que estou dizendo. Citarei apenas dois: 1) Programa de adestramento de cães por prisioneiros no corredor da morte nos USA e 2) Programa de meditação nas cadeias da Índia. À menor chance e lá estão seres humanos julgados incapazes de qualquer ato de bondade ou respeito ao próximo, surpreendendo a todos com um retorno a decência, aos laços de amizades e a reconquista de suas próprias dignidades.
Esse tipo de “milagre” é algo que se vê freqüentemente nos lugares onde as pessoas se comprometem com seus crescimentos. E não falo de religião. Falo de espaços criativos, para relaxamento, para ter tempo de se conhecer e se desenvolver e até mesmo em lugares inóspitos onde por falta de opção há de se confrontar consigo próprio.
Todos aqueles que optaram por sair da roda social do devo ser, tenho que, preciso ser, descobriram qualidades internas que fazem a diferença. Muitos daqueles que perderam tudo e foram lançados para fora da roda contra suas próprias vontades, também encontraram essas qualidades. E por isso creio que não seja uma questão de não se ter dentro o potencial, mas antes de tudo não procurar no lugar certo.
Não há nada que se possa comprar ou conquistar que vá preencher a sede do ser humano. A busca é pela realização individual, pela aceitação pessoal, pelo amor incondicional. E nenhuma dessas será alcançada de fora para dentro. Seria como a semente ficar fechada esperando a árvore nascer para depois ..... Ora, sem a realização da semente, não acontece árvore. Precisamos voltar para dentro, olhar o que somos, reconhecer o que possuímos e então, nos edificarmos com bases sólidas de verdade e consciência.
Não importa quão alto seu posto, quão rica sua conta bancária, quão reconhecido seja seu nome, se você não é capaz de estar só e se sentir relaxado, à vontade e realmente contente consigo próprio, tudo isso não passará de uma triste ilusão. E como todo ilusão não pode permanecer por muito tempo, no final, lá estará você sozinho e vazio.
Felizardos são aqueles que por vontade própria ou não, são atirados de volta para dentro de si mesmos. Estes tem sido, são e serão os que fizeram, fazem e farão realmente alguma diferença. E mesmo que passem pela vida sem reconhecimento da mídia, e até mesmo com a rejeição da sociedade (muitos são os exemplos: Buda, Osho, Jesus, etc) ainda assim, mantém aberta a porta para que encontremos o caminho de volta para casa, nossa morada, nosso ser.


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