quarta-feira, 30 de maio de 2007

Momento



O que muda na vida quando sou apenas o agora?
Creio que realmente existe uma lógica nos ensinamentos de todos aqueles considerados sábios espirituais. Pois, não consigo pensar em nada que desperte mais temor nas pessoas do que viver cada momento e apenas isso.
Alguns dirão que a morte é o que mais assusta. Será mesmo? O que é a morte senão a certeza de que não controlamos o tempo. Não é a morte a forma mais crua de sermos jogados de volta a esse momento? A morte quebra o conforto do passado e do futuro. E nos faz encarar a questão de como vivemos esse minuto. Que é potencialmente o último.
E afogados por esse entendimento, somos obrigados a olhar o que somos, que qualidade nos damos, como retribuímos o milagre de estarmos vivos.
Muitos pensam que criamos a partir do passado, que somos frutos do aprendizado e que o futuro deve ser calculado e planejado com cautela. Será que temos todo esse poder?
A vida me parece ter sua própria forma, sem muita consideração por aquilo que tendemos a ter como verdade. Sempre surpreendente, acontece nos tirando do espaço de conforto e nos desafiando a rever, refazer, reinventar. Será possível que isso seja apenas uma piada aleatória? Não creio!
E por uma deficiência inata de uma curiosidade agonizante, sempre que me sinto aventureira o suficiente, mergulho no conceito de ter apenas esse momento. Que experiência!!!! Como tudo muda nesses raros espaços de entrega e vulnerabilidade.
Passado se dissolve, futuro se dissolve, e o presente se desdobra num mar de eventos grandiosos, únicos, intensos, efêmeros e indescritivelmente eternos. Sem contar numa qualidade difícil de compreender. O último beijo, o último suspiro, o último encontro... Todo seu ser entregue a incapacidade de recriar, a visceral certeza da insignificância de refazer e a divina consciência de que não faz diferença. Que o momento vivido com totalidade, eterniza, eleva, torna sagrado. Algo se parte, uma expansão acontece, os sentidos se apuram, a mente se aquieta, uma nova forma de perceber se acende e no meio de tudo isso, uma graça, uma gratidão, uma benção, uma comunhão com o que está ao redor... Perfeição no caos!
A dualidade dissolve. Vida englobando o círculo morte e nascimento. Integração gerada pelo amor que esquece como temer. Apenas aqui, apenas agora. Uma emoção que presenteia, aquece, conforta e reconecta. Sou o que sou, estou onde estou, e está tudo bem.
Penso que a vida sempre acontece enorme assim. Infelizmente, estamos olhando para nossas sombras, numa permissão irresponsável de adiar. Amanhã ainda parece possível. Mas, não é. Esperamos chegar e esquecemos que a jornada é o que nos faz o que somos. Felicidade, amor e realização acontecem em cada ação. Ação é o movimento no momento. E agimos sempre aquém daquilo que podemos. Infelicidade é não ser por completo. Desamor é não estar presente. Morte é deixar a vida continuar escapando a cada momento...

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