sábado, 24 de fevereiro de 2007

Mulheres e mães



Quando comecei meu processo de auto conhecimento, conheci uma terapeuta alemã que além de ser uma mulher muito bonita, fisicamente falando, ainda me passava qualidades humanas invejáveis. Perguntei a ela se em sendo uma pessoa tão bem resolvida interna e externamente, não planejava ter filhos. Jamais esquecerei a calma e serenidade com a qual ela respondeu minha pergunta. Olhando diretamente em meus olhos disse: - Primeiro preciso me dar à luz, depois quem sabe?
Essa frase marcou profundamente meu coração. Nessa época, estava com vinte e poucos anos e já intuía que a maternidade não era algo que fazia vibrar minha alma. E de algum modo, entendi o porquê.
Desde então, venho prestando bastante atenção no significado de ser mulher, esposa e possível mãe. E me surpreendo constantemente com uma sensação de desapontamento com o que tenho visto.
Trabalhando com pessoas que estão buscando uma melhora na qualidade de vida, recorrentemente lido com questões relacionadas a companheiros e filhos. E sempre me assusto com a capacidade que as mulheres têm de sobreviver na dor e na grande dificuldade que têm de abrir espaço para suas necessidades, desejos e realizações.
Parece-me que para serem aceitas, para obterem reconhecimento profissional, para alcançarem uma posição mais equilibrada em relação aos homens, as mulheres se sujeitaram a dobrar suas tarefas e obrigações, tendo que se endurecer e abrir mão de grande parte das suas características femininas.
Não acredito que isso se enquadre a todas elas, posto que algumas devem ter encontrado real e profunda felicidade fazendo parte desse esquema. No entanto, acho que a maioria de nós perdeu muito mais do que ganhou nesse processo.
É raro encontrar uma mulher hoje que se diga satisfeita e realizada. Normalmente, encontramos fêmeas exaustas e solitárias. Trabalhadoras exigentes durante o dia, empregadas silenciosas à noite. Aquelas que mantiveram algumas das características reconhecidamente femininas sofrem caladas, tentando fazer a vida de seu parceiro mais fácil, se esforçando para dar aos filhos valores básicos e se contentando com uma vida que mais parece castigo divino do que uma escolha nascida e nutrida por amor.
Aquelas que absorveram ao máximo as características masculinas necessárias para obter sucesso no mundo, já fazem mais alarde, discutem a relação (na esperança nunca preenchida de ser realmente ouvida), delegam aos filhos a responsabilidade por suas próprias criações, brincam de independência e dormem com calmante.
É obvio que até aqui estive falando de extremos. Você e eu estamos perdidas no meio disso tudo. Não quero ser masculina. Amo ser “menina”! Quero ser cuidada, nutrida, apreciada e profundamente valorizada exatamente por isso. Mas, e aqui sim nasce o desafio, para que isso aconteça precisamos aceitar que não podemos ser homem/mulher ao mesmo tempo. Não estou fazendo apologia ao que a idéia da antiga Amélia significava. Estou sim dizendo que minha força não precisa ser mostrada através de trabalho competitivo, horários abusivos ou uma mente exímia e ardilosa capaz de dar nó em pingo de água. Ela e todas as outras qualidades femininas se mostram através de nossa imensa capacidade de dar à luz, de nutrir, de fazer crescer e de sobreviver.
Num mundo cada vez mais regido pela frieza mental, o que não falta é espaço para se reacender a chama da mulher e sua forma de transformar aquilo que precisa de renovação. E pelo que tenho ouvido e visto, se as mulheres resolverem contribuir com o processo de cura do planeta, um bom lugar para começar seria dando uma boa e longa olhada em seus filhos. Por décadas, encontro mulheres reclamando que seus companheiros são isso ou aquilo... E tristemente vejo-as criando seus filhos a imagem e semelhança desse mesmo homem que reprova. Se fizermos do masculino não nosso concorrente, mas sim amigo, teremos nossas preces respondidas e nossos corações aquecidos. Até o momento vejo mulheres infelizes e homens assustados. Acho que podemos fazer melhor.
Mulheres... Nada pode deter a vontade de uma mulher!
Mulheres... Sobreviventes e criadoras!
Mulheres... Está na hora de se dar à luz!

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