terça-feira, 1 de maio de 2012



Fechando uma década bastante intensa, finalmente me encontro de férias! E quando digo férias, não me refiro apenas a permissão de não trabalhar. Falo daquele estado interno relaxado onde existe espaço para simplesmente não se preocupar, cobrar ou tentar fazer diferente. Um verdadeiro momento de parada. Livre de expectativas, horários, deveres e exigências.
Infelizmente, cheguei aqui não por livre e espontânea vontade, mas sim porque obstinadamente me levei muito além dos limites que asseguram a saúde. Não vi os sinais de alerta, não acreditei nos sintomas e contei com uma resistência sobre-humana.
Aprendi, existencialmente, que nossa riqueza de recursos nos permite compensar deficiências de forma quase suicida. Bravamente vamos nos contorcendo, encolhendo, enfraquecendo até uma anestesia quase fatal.
Reprimimos emoções, desconsideramos fraquezas, ignoramos dores, engolimos dificuldades e nos fechamos fisicamente, aceitando uma rotina desprovida de nutrição. Esperamos que o amanhã traga soluções e enfrentamos o “aqui e agora” como uma espécie de missão a cumprir para chegar lá. Dessa maneira, ao invés de viver e crescer, criamos uma vida de provações e sacrifícios que nos leva ao desequilíbrio e solidão.
Nos tornamos atletas em constante treinamento. Seres machucados que não se dão tempo para curar e se obrigam a permanecer na tentativa de superação. Levamos o corpo à exaustão e nos obrigamos a ignorar dores, cansaços, aflições. Até o colapso acontecer. Só, então, somos obrigados a encarar o estrago. E que estrago!
Diferente de máquinas, nosso desafio maior não é restaurar nosso corpo/matéria. O desafio é encarar como pudemos nos trair dessa forma. Dói perceber que, em verdade, durante todo o percurso sabíamos que não estávamos nos respeitando, nos cuidando, nos amando. Nossa alma sussurra constantemente e por isso, por mais tentador que seja, sabemos que não existe alguém a culpar. Assumir a responsabilidade de nossas escolhas não é algo fácil a fazer. E mais difícil ainda é colher os frutos das sementes que decidimos plantar.
Até porque percebemos que fizemos um esforço supremo em prol das pessoas que amamos e que nessa tentativa fracassamos em dar o que esperávamos. Tentamos ser o que imaginamos que esperam e abrimos mão de ser o que de fato somos. Como nosso melhor só cresce na totalidade, percebemos que ao invés de atingir o objetivo nos tornamos mentiras e embustes. Exaustos, assustados e carentes, temos que recomeçar. Sair da anestesia que nos trouxe até aqui e enfrentar o fato que não fomos movidos por expectativas alheias, mas sim por padrões inconscientes que interpretaram erroneamente as mensagens recebidas, pode ser uma vivência avassaladora. Perceber nossos medos, nossas cobranças internas, nossas aflições, liberta não só nosso coração, mas também abra as portas para a realidade. E cura! Ainda que doa.
Olhar para dentro, se conhecer, rompe as algemas imaginárias que nos cativam e aleijam. Não posso ser o que o outro deseja, mas posso florescer magnificamente naquilo que sou! E nesse processo surpreendo com uma existência magicamente única.
Presentear a quem se ama com a coragem de ser o que se é... Criar a liberdade da aceitação, da compreensão amorosa, da abertura do respeito e reconhecimento, isso sim é algo que não tem preço!
E é a única possibilidade real de atingir o preenchimento que procuramos.


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