Fechando uma década
bastante intensa, finalmente me encontro de férias! E quando digo férias, não
me refiro apenas a permissão de não trabalhar. Falo daquele estado interno
relaxado onde existe espaço para simplesmente não se preocupar, cobrar ou
tentar fazer diferente. Um verdadeiro momento de parada. Livre de expectativas,
horários, deveres e exigências.
Infelizmente,
cheguei aqui não por livre e espontânea vontade, mas sim porque obstinadamente
me levei muito além dos limites que asseguram a saúde. Não vi os sinais de
alerta, não acreditei nos sintomas e contei com uma resistência sobre-humana.
Aprendi,
existencialmente, que nossa riqueza de recursos nos permite compensar
deficiências de forma quase suicida. Bravamente vamos nos contorcendo,
encolhendo, enfraquecendo até uma anestesia quase fatal.
Reprimimos emoções,
desconsideramos fraquezas, ignoramos dores, engolimos dificuldades e nos
fechamos fisicamente, aceitando uma rotina desprovida de nutrição. Esperamos
que o amanhã traga soluções e enfrentamos o “aqui e agora” como uma espécie de
missão a cumprir para chegar lá. Dessa maneira, ao invés de viver e crescer,
criamos uma vida de provações e sacrifícios que nos leva ao desequilíbrio e
solidão.
Nos tornamos
atletas em constante treinamento. Seres machucados que não se dão tempo para
curar e se obrigam a permanecer na tentativa de superação. Levamos o corpo à
exaustão e nos obrigamos a ignorar dores, cansaços, aflições. Até o colapso
acontecer. Só, então, somos obrigados a encarar o estrago. E que estrago!
Diferente de
máquinas, nosso desafio maior não é restaurar nosso corpo/matéria. O desafio é
encarar como pudemos nos trair dessa forma. Dói perceber que, em verdade,
durante todo o percurso sabíamos que não estávamos nos respeitando, nos
cuidando, nos amando. Nossa alma sussurra constantemente e por isso, por mais
tentador que seja, sabemos que não existe alguém a culpar. Assumir a
responsabilidade de nossas escolhas não é algo fácil a fazer. E mais difícil
ainda é colher os frutos das sementes que decidimos plantar.
Até porque
percebemos que fizemos um esforço supremo em prol das pessoas que amamos e que
nessa tentativa fracassamos em dar o que esperávamos. Tentamos ser o que
imaginamos que esperam e abrimos mão de ser o que de fato somos. Como nosso
melhor só cresce na totalidade, percebemos que ao invés de atingir o objetivo
nos tornamos mentiras e embustes. Exaustos, assustados e carentes, temos que
recomeçar. Sair da anestesia que nos trouxe até aqui e enfrentar o fato que não
fomos movidos por expectativas alheias, mas sim por padrões inconscientes que
interpretaram erroneamente as mensagens recebidas, pode ser uma vivência
avassaladora. Perceber nossos medos, nossas cobranças internas, nossas
aflições, liberta não só nosso coração, mas também abra as portas para a
realidade. E cura! Ainda que doa.
Olhar para dentro,
se conhecer, rompe as algemas imaginárias que nos cativam e aleijam. Não posso
ser o que o outro deseja, mas posso florescer magnificamente naquilo que sou! E
nesse processo surpreendo com uma existência magicamente única.
Presentear a quem
se ama com a coragem de ser o que se é... Criar a liberdade da aceitação, da
compreensão amorosa, da abertura do respeito e reconhecimento, isso sim é algo
que não tem preço!
E é a única
possibilidade real de atingir o preenchimento que procuramos.
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