Muitas pessoas consideram que saúde é meramente a ausência
de doença e por isso supõem que podem se manter “normalmente funcionais”
independente de todos os sinais de exaustão e desequilíbrio.
É fato que o ser humano pode suportar uma imensa quantidade
de stress e ainda assim não colapsar ou cair doente. O que não se leva habitualmente em
consideração é que sobrecarregados passamos a funcionar de forma perigosa.
Nossos humores passam a variar, nossa visão passa a ser questionável, nossa
expressão se torna potencialmente explosiva. Nesse estado limítrofe mantemos o
gatilho eternamente ligado e qualquer evento pode desencadear um conflito sem
sentido que trará certamente uma imensa maré de culpa e remorso tão logo a
poeira se assente. Surpresos com tanto barulho por nada vemos o erro, mas ainda
assim por razões que o coração desconhece e a mente inventa, permanecemos na
mesma rota até a próxima colisão.
É complicado entender e explicar que limites não nos tornam
fracos e que em verdade seríamos muito mais produtivos e amorosos se os
respeitássemos. Até porque lidamos com o mundo da mesma maneira que lidamos com
nossas mazelas. Quanto mais conscientes nos tornamos de nossa realidade
interna, mais nos tornamos capazes de compreender as situações e pessoas que
surgem em nossa vida.
Para dificultar ainda mais, nosso inconsciente embora não se
mostre claramente, nos guia na direção que precisamos ir para atingirmos nosso
potencial. E de forma amoral nos impele a buscar e criar circunstâncias que nos
despertem e conectem com a verdade de nossos sentimentos e necessidades
emocionais.
Não importa o quanto nos obriguemos a correr, trabalhar,
produzir. Mesmo que estejamos constantemente ocupados, nosso eu estará lá,
berrando ou sussurrando o que não estamos ouvindo, preenchendo, aceitando. E se
caminhamos cegamente, não temos como evitar tropeços, quedas e machucados.
Culpar paredes, obstáculos e até mesmo as pessoas ao nosso redor, não resolve
ou acrescenta.
Abrir os olhos, ver, enxergar. Tornar consciente, perceber a
dor, abre as portas para um novo caminho com maiores e melhores opções. Deixar
de ser quem tudo suporta ou aquele que sobrevive não importa ao que, talvez
faça o ego gemer. Provavelmente será desconfortável e assustador sair do lugar
“produtivo” do fazer, para se descobrir na insegurança do real valor de
simplesmente ser. Muito mais porque não estamos acostumados a reconhecer nosso
interior do que pela reação externa que poderá surgir.
Estranhamente imaginamos que devemos esconder nossas
fraquezas para sermos valorizados e exatamente por isso funcionamos de maneira
mentirosa e ineficaz.
Obrigar-nos um desempenho impecável, apenas nos coloca
distantes, protegidos e fechados, exigindo relações racionais que impedem
verdadeiro contato ou nutrição.
Buscar a perfeição nos faz rígidos e nos mantém
assustadoramente perto da ruptura. Não precisamos da perfeição, mas sim da
totalidade. Sendo inteiros, aprendemos a complexidade humana e mergulhamos no
mistério que eleva a alma. Porque a consciência nasce feroz e mostra que nossas
supostas falhas são perfeitos mecanismos de encaixe e equilíbrio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário