quarta-feira, 9 de março de 2011

Cães e filhos


Terminei de ler dois livros de Cesar Millan. Ele é conhecido como o encantador de cães e seus livros falam do relacionamento entre nós humanos e nossos amigos caninos.
Para quem já o assistiu no Animal Planet, fica fácil perceber que seu papel é muito maior do que fazer cães complicados se comportarem bem. De fato, sua abordagem é trazer aos donos o entendimento que no mundo natural a energia que emitimos é o que determina a resposta que obtemos de nossos amigos peludos. No decorrer de suas demonstrações práticas os donos tendem a se ver de uma maneira bem mais honesta do que costumam fazer. Compreendem que seus cães não dão valor as palavras exaltadas que dizem na tentativa de impor limites e nem tampouco entendem suas falas infantis de carinho e tentativas de negociação. Cães respondem ao que sentem. São instintivos e verdadeiros. Não sabem barganhar, mas felizmente, sabem testar limites na busca da clareza de quem é o líder da matilha. Para quem tem cães ou filhos, certamente é uma leitura imprescindível. Suponho que colocar cães e filhos no mesmo pacote talvez soe politicamente incorreto. E se o faço é porque tenho imensa admiração por ambos. Esses pequeninos indefesos conseguem sobreviver num mundo onde não só ação e sentimento nem sempre fazem sentido, como também são carregados de energias que não correspondem ao momento presente.
Aliás, esse é um conceito que precisa ser bem entendido. Para crianças e cães o tempo é sempre o agora. E em função dessa maneira simples e direta de viver tendem a se mover na inocência do amor incondicional. Ambos nos percebem como seres perfeitos, companheiros confiáveis e fonte de alimentos e segurança. Imagine que decepção emocional deve ocorrer quando agem naturalmente entusiasmados e são respondidos com um muro de cansaço ou irritação. Exemplo clássico é o do pai que chega exausto de um dia de trabalho e se vê obrigado a lidar com uma criança ansiosa por atenção. Quantos conseguem abrir mão das preocupações e se deleitar com o amor transbordante e incansável de uma criança? Quantos negociam para que o tempo seja diminuto e a hora de dormir chegue logo? Quantos simplesmente despejam seu desequilíbrio através de olhares irritadiços?
O que de fato é capaz de partir meu coração é saber que cães e crianças são antenas que captam a verdade dos sentimentos ao seu redor e genuinamente se dispõe a curar, nutrir ou simplesmente tentar melhorar a atmosfera externa, gerando desconforto ainda maior nos adultos presentes, já que esses nem sempre estão dispostos a conectar com o que sentem. E é assim que temos implantado o medo nas relações.
Frágeis como são e incapazes de compreender limitações emocionais passam a recear castigos ou punições por suas ações em geral. Desenvolvem maneiras para negociar e começam a acreditar que sendo naturais não são aceitos, respeitados e reconhecidos.O que deveria ser relação honesta e direta, cresce em temor e proteção. Ensinamos filhos e cães a manter o “rabo entre as pernas”, obedecer e se comportar, independente do que precisem ou desejem. Limitamos suas expressões e recompensamos suas tentativas de passarem despercebidos. Obrigamos que cresçam aceleradamente e sem perceber destruímos sua capacidade natural de confiar.
Filhos e cães nos espelham. Mostram de onde viemos e para onde estamos indo. São retratos de nossas possibilidades e escolhas. E transbordam, enquanto permitirmos, a mais pura forma de amor. Certamente exigem muito e cansam! São desafios e testes severos de equilíbrio e vontade. E exatamente por isso deveriam ser presenteados com nosso compromisso constante na verdade e transparência em todos os níveis. Precisamos lembrar que a razão serve para segurança e convivência pacifica. Tem seu papel e lugar. E que o emocional é a base de uma visão individual que determina a qualidade da vida futura. Ensinar regras e disciplinar é tão necessário quanto sentir prazer e compartilhar sentimentos. O equilíbrio é a meta e decorre da ação pautada na consciência do que somos e como nos sentimos nesse momento. A nosso favor e de grande estimulo está a certeza que “nossos pequeninos selvagens” sabem que somos os melhores do mundo mesmo quando erramos feio! E enquanto puderem demonstrarão isso de maneira efusiva, seja abanando o rabo ou estendendo os braços numa demonstração de que sabem perdoar e esquecer.
Então, sugiro que tentemos ser mais espontâneos e disponíveis ao momento presente.
Aqui e agora, inteiros e abertos, celebrando nossa parte instintiva e natural. Voltando ao lugar de onde viemos completamos ciclos e curamos... E assim, nos tornamos líderes que se respeitam e que não temem amar. Um presente que tanto se dá quanto se recebe!

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