sábado, 17 de abril de 2010

Neuroses Mentais



Quando estive na Índia, quebrei o pé. Nada sério, mas precisei usar muletas durante 16 dias. Foi a primeira vez que experimentei conscientemente a verdade dolorosa de que a vida não é estressante. Estresse é um fenômeno interno!!!
Estava de férias, sem horários, num lugar que só me dava prazer e ainda assim percebi, através da tortura que é usar muletas, que sentia uma onda constante de pressa para chegar do ponto A ao ponto B. O que de fato se traduzia em sair de uma cadeira para encontrar outra e ainda assim, pela dificuldade de acelerar meu passo, me sentia irritantemente e constantemente atrasada.
A partir disso, comecei a entender uma série de mecanismos internos. É surpreendente a forma como nossa mente foi estruturada. Parece que nossos filtros mentais sempre nascem de algum tipo de cobrança. É como se estivéssemos ininterruptamente numa freqüência de exigência e controle. Frases básicas se repetem de forma subliminar e com uma persistência de enlouquecer qualquer um. Coisas do tipo: “Será que vou dar conta?”, “ Será que sou boa o suficiente?” , “ Será que estou fazendo certo?”, “O que vão pensar de mim”, etc, badalam discretamente dentro de nosso cérebro minando nossa capacidade para simplesmente viver. E como foram introduzidas no passado distante da infância, parecem partes integrantes e naturais de nosso ser. Não as ouvimos mais... No entanto, agimos a partir delas, embora inconscientes disso.
Por isso olhamos para fora e justificamos o desconforto com qualquer fato que pareça servir.
Brigamos com o trânsito sem perceber que não é estar parado dentro do carro que é o problema. A questão surge porque discretamente esses mecanismos “doentinhos” geram a sensação de conseqüente fracasso pessoal. Não nos limitamos a viver o momento, curtir a música que toca no rádio do carro e posteriormente pedir desculpas genuínas a quem ficou nos esperando. De fato, passamos o tempo todo guerreando com a demora, nos contorcendo em ansiedade, maldizendo os tempos, contraindo cada músculo do corpo e quando chegamos ao nosso destino, estamos irritados, cansados e nos sentindo pessoalmente errados, quase como se fossemos culpados diretamente pelo motivo do atraso. E assim com todas as outras dificuldades da vida contemporânea.
É bizarro perceber que embora sejamos incentivados a nos manter racionais, no que diz respeito ao bem estar e qualidade de vida, nos tornamos legumes automáticos desprovidos de lógica. O dia tem 24hs e isso é algo que não se altera. Sabemos que precisamos reservar horas para sono, alimentação e higiene.
Com o que sobra teríamos que separar períodos de trabalho e prazer. Até aqui seria apenas necessário usar regras básicas da matemática e planejar uma vida saudável sem grandes dificuldades. Surgem novas demonstrações internas da loucura passada de geração em geração: “Tempo é dinheiro”, “Posso agüentar mais um pouco”, “Não posso deixar essa pessoa na mão”, “ É só uma fase”, “Preciso me preparar para velhice”, etc. Com essas noções adoentadas temos que comprimir o dia numa marcha enlouquecidamente acelerada e dizemos que somos vítimas da era moderna.
O programa é: estudar como louco, trabalhar como escravo, progredir como rei e se aposentar como sábio. Resta descobrir a maneira humana de traduzir isso. Certamente não é o que estamos vendo em grande maioria; adultos diplomados sem consistência, empregados ou patrões assoberbados e descontentes, pessoas que gastam tudo o que ganham para manter tudo que não tem tempo de usar e finalmente idosos arrependidos pela vida que deixaram passar.
Quanto mais me conheço mais me convenço que a hora é agora e o lugar é aqui. Nesse espaço, estresse e problema deixam de existir. Nasce a possibilidade da escolha consciente e ação criativa. Não tenho poder além desse momento e quanto mais acordada fico para essa verdade simples e profunda, mas me responsabilizo pela criação e desenvolvimento da minha própria vida. Bem melhor andar de muletas conscientemente respeitosa com minha limitação e aberta para cuidados externos de amigos do que desesperadamente ansiosa para levar meu próprio traseiro para o próximo banco onde apenas ficaria resmungando a má sorte e sofrendo a agilidade dos que passam correndo sem saber para onde estão indo.
A vida é feita de escolhas...

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