domingo, 12 de julho de 2009

Calar x silenciar



Na minha experiência pessoal e profissional repetidamente encontro pessoas que pensam ser calar e silenciar, ações semelhantes. Não as encaro como tal já que recorrentemente vejo trazerem resultados completamente diferentes dentro das relações.
Calar é sempre fruto de uma escolha temerosa. É deixar de dizer algo. É uma ação negativa. Traduz a intuição do desencontro. Calar significa crer que a comunicação não é mais possível ou produtiva. Calamos porque tememos a briga, a dor e a separação. Mas, em geral, o fazemos usando a racionalização que diz ser melhor falar posteriormente. Enfeitamos o pavão com uma superioridade ilusória. E como não percebemos e validamos nossos temores, empurramos os resíduos não resolvidos para debaixo do tapete. E assim vamos alimentando uma série de transtornos cumulativos que vão minando os laços e destruindo a qualidade do amor. Até chegarmos ao ponto de simplesmente não mais falar porque deixa simplesmente de valer a pena.
Silenciar, ao contrário, é fruto de encontro tão intenso que não há palavras para dizer. É afirmativo, confiante, vulnerável, vibrante e intenso. É afirmação de vida. São momentos que transcendem barreiras. Silenciar é não ter o que dizer, nem precisar fazê-lo. É uma espécie de comunhão, de derreter e integrar.
Parece-me que calar sempre mostra que a relação está com problemas. Medo e amor não acontecem ao mesmo tempo. Calar é falta de amor, falta de confiança no amor. É o temor que palavras sejam mais fortes que vínculos afetivos. Calar mostra solidão e separação. Silenciar acontece quando amamos profundamente. Dissolvemos e partilhamos o momento. Calorosamente unidos, apenas somos. É mágico e raro!
Por tudo isso, sempre me surpreendo com a permissão que as pessoas se dão de se manterem caladas. Por mais que tentem justificar essa escolha, sofrem com os espaços abissais que criam. E permanecem vivendo uma vida pequena, assustada e distante. Conviver com possibilidades abortadas pelo medo impede o florescer do amor maduro, verdadeiro e profundo. E certamente nos privam do êxtase do encontro no silencio compartilhado.

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