segunda-feira, 19 de maio de 2008

Impotência



Não há lição mais doída do que se sentir impotente. Lidamos com inúmeras situações e na maior parte do tempo sentimos que temos algum controle sobre os eventos. Acreditamos que participamos, alteramos e contribuímos para que as coisas sejam desta ou daquela forma.
Mas, existem situações especiais, particulares, que nos colocam de volta no lugar de mero espectador descontente. Incapazes de alterar os fatos somos obrigados a reavaliar nosso tamanho e a perceber que a vida nem sempre é como queríamos que fosse. E mesmo para aqueles que acreditam numa inteligência superior, no bem maior, ainda assim esses períodos cinzentos são torturantes, despedaçadores e inesquecíveis.
Não há quem não tenha experimentado essa sensação. Acontece todo dia em nossa jornada diária e na maior parte do tempo somos tão atropelados pelas obrigações de sobrevivência que não nos permitimos parar e lamentar. Entretanto, quando essa sensação diz respeito a quem amamos com todas as forças, somos obrigados a encarar os fatos e fazer escolhas geralmente dolorosas. Não importando o tipo de relação, se há amor, ver o outro seguindo uma direção que sabemos o levará ao sofrimento, parte nosso coração em pedaços. Infelizmente, cada um vive sua vida como acredita ser necessário e nesses casos a experiência alheia não serve para muita coisa.
Quanto mais profundo o amor, maior o cuidado, a atenção, o zelo. Maior a expectativa da qualidade de vida daquele que amamos. O que fazer se nosso objeto de amor, embora tão profundamente amado, não tenha aprendido a arte de se amar? Como conviver com a realidade de que não podemos evitar o sofrimento alheio e que devemos respeitar as escolhas, certas ou não, daqueles que nos são caros? Muitas vezes somos capazes de antever a catástrofe, mas isso não é suficiente para podermos evitá-la. E essa capacidade crescida do sofrimento, no final, ajuda-nos a nos tratar com mais respeito, e como faca de dois gumes nos distância do outro, visto que este espera viver por si próprio e aprender com seus próprios atos. Respeitar escolhas é uma coisa, partilhar suas conseqüências outra bem diferente. Como delimitar o que é do outro e o que é nosso?
Relacionar em geral significa partilhar. Alegrias e tristezas sendo divididas. Quedas e ascensões compartilhadas. Escolhas de destino? Não! Como lidar com isso? O que fazer se seu parceiro lhe impõe o peso de uma decisão infeliz, quando a própria não foi tomada em consenso? É possível separar liberdade individual da relação afetiva?
No final do dia teremos que enfrentar as conseqüências de nossas atitudes. Nossa dor é nossa e somente nosso coração sabe quão profunda ela é de verdade. Mas, não há nada mais egoísta do que aceitar nossa própria dor e decadência. Não existe nada mais letal do que obrigar a quem nos ama nos ver assim destruídos.
Que jamais seja esquecido que o amor autêntico é divino, e por isso tudo sabe. Não há mãe que não saiba como o filho está, mulher que não pressinta o que seu homem guarda no coração, irmãos que não reconheçam sinais de perigo. O amor liga as pessoas além do raciocínio e do humanamente explicável, vê e desnuda. E por isso cobra cuidados cautelosos e extremos. Precisamos acordar para o fato de que estamos no mesmo barco. Ou nos elevamos todos ou caímos unidos na desgraça. Não seria necessário amar nossos inimigos, se entendêssemos a urgência de amar-nos a nós mesmos. Uma vez revelado o amor, torna-se impossível destruir o que quer que seja. Sendo assim a única coisa que é realmente impotente é a ausência do amor em si.
Que cada um seja fonte de esperança cultivando em sua alma a chama do amor. Há de se construir um mundo melhor com a força da auto-estima, do cuidado pessoal, do respeito ao individuo, do compromisso de cada ser em se desenvolver por completo. Não podemos dar o que não temos. Precisamos ser exemplos e passar adiante aquilo que é capaz de fazer florescer a consciência.
Precisamos ser o que gostaríamos que nossos afetos fossem. Se temos coragem para sermos felizes, verdadeiros, íntegros, amorosos, respeitáveis, ensinamos a quem nos importa o caminho à seguir. E ainda ganhamos o prêmio de ter algo genuinamente restaurador caso venham a precisar. Assim transformamos o que potencialmente seria impotência, em amizade, confiança, carinho, cuidado, presença imparcial e respeito.
O amor é o começo, o meio e o fim. Sem ele tudo é impotência. Através dele.... vale descobrir!

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