Fico me perguntando como expressar essa sensação de aperto na garganta, esse grito de pavor calado no meio do peito... Sensação de urgência nos braços estendidos vazios, apenas repletos da certeza da impossibilidade do reencontro.
Dor fria, crua, revolvendo-se a cada respiração como um suspiro silencioso, preenchido pelo que não poderá jamais ser dito.
Mais um ciclo se completa; nascimento e morte. Dizem-se complementares e semelhantes. Ordem natural, fluxo de renovação da natureza. Então, por que não podemos explicar o
desamparo de quem fica, ou a dor que fere fundo cada pedaço de nosso corpo? Como, então, sendo algo tão presente, pode passar despercebido em todos os momentos que deixamos incompletos? Que loucura é essa que nos faz tomar a vida como algo trivial, vulgar?
Máscaras, jogos, desperdícios, artifícios, mentiras e desamor. Isso é vida?
Parece que só se é capaz de viver quando a morte bate a porta e nos acorda, ameaçadora, fazendo certo que o tempo já se foi.
Será que são as lágrimas que abrem os olhos e despertam o coração? Quanto tempo perdido, jogado fora, sacrificado pela falta de coragem em viver a vida, aberto, vulnerável e fluído. Petrificados no medo, morremos ainda vivos. Secamos, despedaçamos, desistimos, antes de conhecer a aurora ou o florescer.
Queria gritar, chorar, correr, sentir meu corpo pulsando acelerado com o bater do meu coração, sentir o vento despentear o meu cabelo e desalinhar essa expressão certinha e opaca, sentir o sol queimar minhas bochechas, deixando o prazer do calor construir um sorriso de criança em minha face.
Queria voltar a ter o brilho dos olhos do bebê que ainda tem esperanças, que vê o mundo nascendo e que jamais se dá conta das coisas que se vão... para sempre!
Queria abrir a janela e acreditar na melodia de cada ser humano.
Queria ver a dança da existência, celebrando a construção de um mundo melhor.
São tantas as coisas que eu queria ver, sentir, tocar, degustar, perceber, descobrir, experimentar, e viver.
Ah! Se eu pudesse viver sempre pronta para parar de viver.
Tantas coisas não ditas, não compartilhadas, não descobertas.
É como se estivesse sonhando e que uma vez acordada tomasse consciência que poderia e deveria ser diferente, mas que já não posso voltar atrás. É o meu sonho, posso fazer dele o que quiser e só me apercebo disso quando deixa de existir.
Essa é a vida que me flagro deixando morrer.
Talvez, num único momento, sentada e quieta, eu possa sentir que está bem assim, que é o que tem de ser. Talvez, um dia, eu possa perceber que vale a pena. Talvez, um dia, eu possa acordar e entender que o sol continua nascendo, as flores continuam crescendo, os rios continuam fluindo, os seres humanos continuam dormindo; mas, que ainda assim está bem...
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