domingo, 21 de janeiro de 2007

O corpo fala



É comum se ouvir dizer que o corpo fala. Hoje, muitos setores usam a linguagem corporal como ferramenta para tomar decisões. Advogados e promotores “lêem” pessoas na escolha do melhor júri, policiais “lêem” suspeitos na procura de atitudes que demonstrem se estão sendo honestos ou não, psicólogos “lêem” clientes para chegarem a diagnósticos mais precisos. Enfim, em inúmeras situações já é comum levar em consideração aquilo que o pacote humano mostra. Em pacote me refiro à postura, gestos, expressões faciais, direção do olhar, etc.
Seria então correto dizer que o externo, o que está à vista traduz o que se tenta esconder internamente? Se for assim, por que não imaginar que aquilo que acontece internamente na verdade é a tentativa inconsciente do ser humano expressar o que está acontecendo externamente?
Se tivermos coragem de aceitar essa possibilidade, teríamos que aprender a investigar tudo que acontece dentro do corpo. Será possível que aquela enxaqueca persistente seja de fato um recado de nossa alma para reavaliarmos o que estamos enfrentando no dia a dia? E aquela gastrite que nos ataca de vez enquando? Será que está nos chamando à atenção para algo que precisa mudar? Quando nosso pescoço trava ou nossa coluna reclama, será que estamos carregando peso demais?
Uma vez construída essa ponte é impossível deixar de ver o quanto nossos corpos são sábios. E todas as nossas, assim chamadas, doenças se transformam em momentos de acordar. Toda crise traz a possibilidade de crescimento. E o que é o desequilíbrio físico senão um período de transformação?
Acredito que nada acontece com o corpo que não traduza a lição que precisamos aprender. Dos mínimos acidentes as doenças mais sérias. A diferença ficará apenas na capacidade de se ouvir. Se sou uma pessoa que se respeita, se cuida, se ama, tenderei a ser mais saudável e a me acidentar menos. Ao contrário, se não me dou valor, se acredito que não mereço ser feliz, se preciso carregar o mundo nas costas, meu chamado corporal não será do tipo sussurro, mas sim de grito por socorro.
Seguindo essa linha de raciocínio tentemos um exemplo; Um advogado que trabalha feito um louco, que acredita que precisa fazer a diferença, que precisa deixar uma marca no mundo, no meio de uma reunião sente uma dor no estômago. Que que ele faz? Toma um remédio e segue adiante. Alguns dias depois a dor volta. Novamente, ele toma um remédio. Na semana seguinte, ele sente enjôo, ânsia de vomito, uma queimação estranha. Nada que um calmante não possa ajudar.... E assim ele vai. Alguns meses depois, ele acorda no meio da noite desesperado de dor. Corre para a emergência mais próxima e se surpreende com a notícia que está com úlcera. Vai dizer que foi coincidência? Que é genético? Hereditário? Que não podia ser evitado?
E se fossemos olhar o pacote externo? Será que daria para prever a doença? Pare! Feche os olhos! Crie na sua cabeça esse advogado. Que tipo de corpo você escolheu? Gordo e relaxado? Magro e tenso?
Bronzeado? Branquelo? Olhos assustados? Olhos agressivos? Ombros contraídos? Movimentação graciosa? Seja honesto, você escolheu um sujeitinho bem esquisito, não foi? Apressado, estressado, tenso, maxilar rígido, olhos irrequietos, possivelmente com um hálito pesado, passadas aceleradas, sem paciência para ouvir, etc.
Na minha experiência, o corpo é sempre a união do externo e interno. Dois lados da mesma moeda. Quando olhamos apenas numa direção deixamos uma parte grande demais na escuridão. É como viver dentro de casa sem acender as luzes. Talvez seja mais barato, mas fica bem difícil evitar tropeços e acidentes.

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