sábado, 3 de dezembro de 2011

Décadas


Por volta dos 20 anos, me descobri totalmente perdida. Estava com o coração destruído e sem noção do que queria ou precisava para sair do buraco onde me encontrava. Sabia apenas que me sentia fazendo tudo errado. Buscava fazer o certo para outros e mergulhava cada vez mais profundamente num caos interno de medo e dor. Independente do esforço para me sentir amada, o vazio continuava gritando e pela primeira vez vi a força da vida agindo a meu favor.
De repente, sem entender bem o que estava fazendo, me vi partindo para a Índia. Lá fiquei por mais de um ano e considero ter sido uma “intervenção divina”. Não sei bem como tive coragem para enfrentar o processo de deixar ir o que pensava que era e me colocar disponível internamente para o que pudesse aparecer. Sei que me senti literalmente expandindo, alargando, crescendo. E quando a hora se fez, retornei ao ninho para partilhar os tesouros descobertos.
Por volta dos 30 anos, vivi a perda da minha mãe. E congelei, encolhi, fechei. Em choque profundo, confesso que não vi a ruptura interna, nem a anemia emocional. Apenas a sensação de que não tinha mais chão. Felizmente, a vida novamente veio ao meu encontro e quando menos esperava já estava dentro do avião.
Na primeira vez, viajei para escolher o mundo que queria construir. Na segunda, para aceitar que esse mundo tinha deixado de existir.
Agora, depois de mais 10 anos reconstruindo um ninho, me vejo presenteada pelo empenho sincero. Pois, não precisei enfrentar longas horas de um vôo incomodo, meu pai e irmã fizeram isso por mim. Foram eles que assumiram a tarefa do crescimento e transformação. E quando laços emocionais são de amor verdadeiro, o contagio é inevitável. Durante essa ausência o que aconteceu comigo não é possível descrever ou explicar. A sensação foi ser constantemente, e a revelia, lavada por dentro. Revirada energeticamente, alterada emocionalmente e transformada mentalmente.
Não existe algo mais visceral do que uma família que se compromete a crescer junto. Isso cria uma atmosfera difícil de traduzir. E para minha alegria promete um novo ninho com mais verdade, amizade, respeito, confiança e fé.
Sinto certa hesitação não só porque a chegada iminente promete grandes mudanças, mas também porque já intuo novos ventos soprando na minha direção. Só rezo que sejam para me levar por menos tempo e numa distância menor.
Afinal... Essa década promete ser a de celebrar um mundo que  renasceu.

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