
Sempre que penso em solidão, a imagem que me vem à cabeça é a de uma pessoa triste, encolhida, carente e provavelmente incapaz de criar laços emocionais verdadeiros. Percebo, então, como o condicionamento familiar / social é forte. Porque não me encaixo nessa imagem e lutei alguns bons anos com a sensação, na maior parte das vezes amarga, de estar só. Confesso que passei algo como sete anos sem ter uma relação afetiva e muitas foram as razões para fazer tal escolha.
Sem vontade para lidar com as complicações naturais das assim chamadas relações homem/mulher, me mantive solteira e fui com o passar dos anos, tendo que encarar a dura necessidade de olhar para dentro.
Inicialmente, senti-me frustrada por não conseguir um exemplar masculino que despertasse o anseio de voltar à ativa emocionalmente falando. Depois, percebi-me furiosa com a ferida aberta que encontrei em meu coração resultante de muitos relacionamentos que não seguiram adiante. Aos poucos, fui corajosamente dando espaço para a idéia de que esperava que outros se responsabilizassem pelas minhas mazelas e trouxessem alívio para minhas inseguranças. Comecei a despertar para o fato que somos ensinados desde pequenos a buscar fora da gente àquilo que deverá trazer felicidade e contentamento. E ficamos inconscientemente devastados por aquilo que acontece no dia a dia, que é a sensação de ser constantemente traído por essa ou aquela pessoa que não nos guia para esse estado de bem aventurança.
A solidão dói não só por nos vermos sozinhos, mas sim porque nos cobra assumir nossas vidas e crescer. É a hora em que precisamos fazer perguntas que não fomos ensinados a nos fazer. Tais como: O que gosto? O que preciso? O que me dá prazer? Que tipo de tratamento quero receber das pessoas ao meu redor? Quanto posso permitir sem abrir mão do que é importante para mim? Como meu corpo preciso ser tocado para chegar ao prazer? O que estou disposta a partilhar com um parceiro? E tantas outras.
A solidão traz a oportunidade de mergulharmos na nossa alma e se ousarmos, podemos encontrar muitas formas de nos nutrirmos e nos valorizarmos.
Falando em valor; quem já parou para se avaliar? Nos contentamos a ser o que disseram que somos. Vestimos rótulos familiares e sociais e saímos por aí achando que é apenas isso. Será? Depois de muitas tardes solitárias, ouvindo música corta pulso no confortável sofá da minha casa, entre lágrimas e muito papel para assoar o nariz, cheguei a brilhante conclusão que não sabia muito sobre meu valor. Não tive oportunidade de olhar para isso antes. Cresci suprindo expectativas, alcançando objetivos impostos e aprendi a andar no automático apenas vivendo aquilo que se apresentava externamente.
Hoje, percebo solidão como um momento mágico. Um chamado que a vida dá para um exame mais minucioso do que sou, do que quero, de quem quero e para onde preciso ir. Dói profundamente, porque percebemos que poderíamos ter sido mais verdadeiros, mais audaciosos, mais conectados com nossa própria natureza. Dói porque nos faz ver que confiamos pouco na vida e nas pessoas. Dói porque mostra o tamanho da nossa própria dor, guardada e escondida, porque aprendemos que devemos ser fortes. Dói porque mostra a covardia de dizer: “Não!”, “Eu preciso”, “Eu quero”, “Isso me machuca”, “Olha para mim”, “Me escuta”, “Sim”.... etc. Dói porque vemos que abrimos mão de muito e fomos presenteados com vazio e decepção.
Tenho boas amigas e conheço muitas mulheres. É triste ter de confessar que a maioria se encontra casada e se encaixa no roteiro previsto como sucesso pela sociedade, diga-se filhos, marido, casa, trabalho, etc. Mais deprimente ainda é ouvir suas confissões de infelicidade no que se trata de relação conjugal. Muitas se encontram insatisfeitas há muito tempo e quando se permitem pensar na separação, imediatamente se encolhem cedendo ao que pensam ser a trágica realidade da solidão. Boquiaberta, sempre me pergunto o que existe para temer. Será a solidão com todas suas possibilidades intrínsecas de liberdade e crescimento mais exigente do que a realidade de uma relação que aprisiona, machuca e desgasta ? O que pode ser mais cruel do que estar só acompanhada?
Com a maturidade adquirida com o tempo e a experiência de ter encarado parte da minha própria solidão, ouço respeitosamente, relato didaticamente minha vivência e rezo para que escolham o caminho que alivie seus corações. Depois, ao deitar, agradeço aos Deuses o fato de poder estar só sem estar vazia e estar conscientemente aberta quando escolho viver algo com outra pessoa. Para terminar, preciso lembrar que após a tempestade, o ar se renova e o sol aparece em seu esplendor. E a resposta para a pergunta; vale mergulhar na escuridão da solidão? Só posso dizer o que foi para mim... Vale! Cada lágrima, cada gota de dor, cada agonia, cada encontro com meus machucados, abriu espaço para o contentamento, a alegria, a verdade. E como a existência é mãe e não é madrasta, o sol brilhou trazendo uma relação que nunca poderia ter acontecido antes do encontro que tive com minha amiga solidão!
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