quinta-feira, 10 de maio de 2007

Idade: Amadurecimento ou velhice?



Sempre fui péssima tentando adivinhar a idade dos outros. Tenho duas razões básicas para justificar minha falta de competência: 1) nunca me senti à vontade com a idade que tenho e 2) reconheço pessoas pelo que me fazem sentir e não pela aparência que possuem.
Como tive uma infância intensa, cresci depressa no que diz respeito a desenvolver uma mente rápida e aguçada. Aprendi a racionalizar meus sentimentos me tornando exímia na arte de pensar para não sentir. E fui socialmente gratificada pela capacidade de reprimir minhas emoções e responder as crises com uma postura madura e sempre superior ao que se podia esperar de uma criança. Já na adolescência meus queridos diques e barreiras começaram a ruir em resposta ao mar bravio dos hormônios característico nesse período. Com a sexualidade batendo forte, fui sendo arrastada ao encontro desse mundo emocional e apesar dos meus esforços, tive de me render à árdua tarefa de reconhecer que sentia. E sentia muito, profundamente e intensamente. Nesse período, tive a sorte de conhecer uma “senhora” de setenta e poucos anos, chamada Ludmila. Lembro-me de vê-la caminhar para todo lado com sapatos de salto agulha, postura de modelo, sorriso generoso e coberta de uma luz que fazia ser impossível conhecê-la e depois esquecê-la. Foi a primeira vez que tive contato com pessoa transbordando vida.
Estranho olhar para esse período e ver que se tivesse que encaixar a definição de jovem e de idoso em nós duas, seria eu aos 20 e poucos anos a senhora e ela em seus 70 a garota.
Felizmente, sua lembrança jamais se apagou e me manteve acordada para entender que a vida não envelhece. O corpo muda. A aparência muda. O exterior muda. Mas, aquilo que nos move, nos diferencia, nos guia e engrandece, está além da passagem dos dias. É algo que a ciência não compreende e a mente não pode racionalizar.
Existe uma parte “mecânica” de fato em todo ser humano. Só que essa parte é regida não por estruturas fixas ou movimentos energéticos controláveis. Ela é o que se permite que seja.
Somos um conjunto que interage o tempo todo. E quanto mais vivemos em plenitude, maior a eficiência e durabilidade do sistema geral.
Hoje, já se tem como verdade que o ser humano usa uma parte mínima do seu cérebro. E ainda assim é capaz de coisas que não se pode explicar. O poder da mente é reverenciado e não mais questionado como real. Acrescente a isso nosso mundo emocional e energético. Se somos produto do funcionamento combinado desse três elementos, é natural imaginar que em nossa grande maioria nos mantemos, em regra geral, também vivendo o mínimo nessas áreas. Acreditamos nessa sobrevivência apertada e mandamos constantemente a mensagem que estamos envelhecendo e morrendo a cada dia que passa. O corpo regido pela cabeça, responde acolhendo essa informação. E vamos andando cabisbaixos, desistindo, enfraquecendo, enrijecendo até colapsar.
Por que então vemos pessoas de mesma idade cronológica, tão assustadoramente diferentes umas das outras? Como é possível existir uma Ludmila? Como é possível existir uma adolescente sem vida? E como é possível uma adolescente amadurecer se tornando mais viva?
A resposta que encontrei no decorrer da minha experiência profissional e pessoal, é que idade cronológica não serve para muita coisa além de criar imagens mentais que restringem e limitam nossa capacidade de responder à vida com espontaneidade. E definições como jovens e velhos apenas descrevem nosso momento existencial. Não deveria ser um rótulo fixo.
Na verdade, renascemos a cada segundo e morremos a cada segundo. Deveríamos nos manter na eternidade do agora, comprometidos com o funcionamento integral de nosso ser, sem abrir mão daquilo que percebemos ser verdadeiro para nós. Acho que assim, descobriríamos como amadurecer e não envelhecer.

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